folga semanal

você trabalha feito um morcego míope madrugadas adentro
e em sua única folga na semana
mesmo depois de ansiar dias
por este momento
“você sente que precisa sair e matar
sugar o sangue dos mortos
já não é o suficiente”
você apenas
dorme..
de cabeça para baixo, obviamente.
dorme 18 horas ininterruptas
e quando acorda, o dia já raiou
sua folga já partiu
e do domingo,
nada restou.

sua mulher deitou-se a pouco
e você, ainda acordando, tateia a beirada da cama
procurando por uma cerveja
que por sorte, não encontra
do contrário, seu bom dia seria quente
e muito provavelmente,
horizontal.

sobre a mesa da sala
você percebe que enquanto dormia
sua mulher trabalhava;
pintou um retrato seu e outro
dela. uma verdadeira artista,
sem dúvida alguma.
você sabe, sempre soube
por isso sorri satisfeito;
alguém precisa se manter
vivo.

então você abre a porta da frente
na esperança de encontrar seu filho, Arturo.
está sumido há três dias
e você não faz nenhuma ideia
de onde ele possa estar, não o conhece
o suficiente
e no fundo, acredita que ele tem bons motivos
para não voltar
“eu voltaria?” – você se pergunta
antes de bater a porta às suas costas
e voltar a dormir.

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