queimando aos poucos

tenho voltado sempre para o mesmo bar.
a cadeira não é das melhores
mas posso fumar onde quer que eu pare
e o garçom já me reconhece
e traz a mais barata e mais gelada
sem eu precisar pedir.
o que mais eu poderia desejar
de um bar? de uma noite?
de um dia inteiro? de alguém?
de alguém que não sabe quem sou?
palmas? não preciso disso
além do que, não gosto de barulho
embora peide alto e cada dia mais
mas é a vida.. você bebe, você dorme
você acorda, você arrota
e você peida.. tão sagrado
quanto Darwin na Cruz
suspensa.. além disso
e talvez o principal, aqui
embora eu venha todos os dias
já tem anos, ninguém me conhece.
aqui ninguém me vê
aqui não preciso ouvir ou falar
eu apenas sento e bebo e fumo até
me perder.. e quando consigo
ignorar o que não importa
eu acabo conseguindo
me entregar ao fogo
e ao menos queimar em paz
por algumas horas.. e por um momento
é como se tudo mais virasse cinzas
e eu pudesse simplesmente
soprar tudo para longe
feito à fumaça que exala
do meu corpo,
agora.

Um comentário sobre “queimando aos poucos

  1. Perfeito!!
    Adoro a minha invisibilidade,
    assim, consumo e me divirto sem ter
    que retribuir ou pagar em dobro, tudo aquilo
    que nunca consumo, mas que serve de consolo…
    Abraços

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