estrAbismo por Ágora Literária

Resenha do livro estrAbismo por Ágora Literária

Recentemente fomos agraciados com um presente pra lá de especial: o filósofo, escritor e professor @neliosilzantov, após leitura do estrAbismo, publicou uma resenha em seu belíssimo projeto “Ágora Literária“. Muito gratos pela leitura e impressões, meu caro.
   
Abaixo, link para leitura da resenha na íntegra:
   
https://agoraliteraria.home.blog/2020/11/27/estrabismo-por-mr-oculus/

Em tempo, convidar aos amigos para conhecerem o trabalho que o Nélio vem realizando no @agoraliteraria.blog

uma espécie de caça ao tesouro com parentes mortos envolvidos

você abre um txt aqui
outro ali
vai abrindo escrevendo salvando
e esquecendo..
aí do nada abre um premiado
que pula cantando um besouro
que te salta aos olhos
um besouro não era
um biscoito
um biscoito um infarto
no gordo um peido
na gaveta que abre
da boiada que sobe um cheiro
morto – tonto
encontro um dedo
mordido por vovô, biscoito
ainda é cedo para o chá das veias
velhas e abertas?

Peça uma peça ( XXX )

Vander após alguns segundos, entrando no quarto em uma fantasia de árvore

– Será que alguém pode me podar?

Vander não para de gargalhar.

Salete levanta o boneco jardineiro dos lençóis, como se estivesse olhando para Vander

Voz do jardineiro

– O que é isso? Que merda é essa?

Vander

– Qual é jardineiro?! Tenho uma raiz pra te enfiar no rabo.

Salete ri sem parar.

Vander faz um disparo no boneco jardineiro (barulho de tiro).

Salete faz o boneco cair.

As luzes do palco se apagam. Silêncio. Depois de alguns segundos, sons de serrote.

Voz de Salete na escuridão

– O que você acha de um taxista amanhã?

Fim do terceiro ato.

No final do terceiro ato, após alguns instantes, Salete aparece na frente do palco deslumbrante, com as cortinas fechadas, gritando e abanando “Táxi, táxi”. Uma voz diz: Deu sorte em camarada, vai levar a ruiva gostosa. Salete atravessa o palco correndo e some. Som de porta de carro abrindo e fechando, e carro arrancando. Vander surge no lado oposto do palco, espiando, em uma fantasia de piloto de fórmula 1. Ergue a viseira do capacete, observa uns segundos, fecha a viseira e sai de cena.

Peça uma peça ( XXIX )

Salete entra no palco abraçada com um boneco vestido de jardineiro, que esconde sua suposta nudez. Entra no quarto com ele, e vão para debaixo dos lençóis. Por alguns instantes sons de sexo. Vozes de ambos embaixo dos cobertores. Salete incentiva o homem, que reclama dos tapas na cara.

Narradora se aproxima da cama. Salete dá instruções para o homem no sexo oral. Mais alguns sons. Salete reclama que o serrote está machucando e completa dizendo: Já tenho o furo pronto! 

Os lençóis param de se mover.

Narradora voltando para plateia

– Salete dirigiu o homem até o quarto e trepou por uns oito minutos, foi o máximo que conseguiu dele. Vander também não esperava tamanha fragilidade do homem. Ele iria chegar na casa depois de uns vinte minutos, o que segundo Salete, saciaria suas vontades.

Voz do jardineiro fora do palco, conversando na cama

– Vamos falar de negócios agora meu amor? Vamos lá ver as árvores?

Salete

– Eu quero mais sexo! Acha que da um jeito nesse galho caído? Mister jardineiro.

Voz do jardineiro fora do palco, conversando na cama

– Vamos lá fora, eu vejo as árvores, aí estou pronto para a próxima.

Salete

– Ok

Salete caminha abraçada com o boneco jardineiro para o lado oposto de onde entrou e sai do palco.

Voz do jardineiro fora do palco

– Essa é a árvore?

Salete fora do palco

– É. Por quê?

Voz jardineiro

– Nada. Podo ela agora por vinte reais.

Salete

– Pode começar.

Barulho de serrote cortando madeira

Narradora

– Salete já pensava que esse negócio não daria muito certo. “Um homem que trepa desse jeito merece ter os bagos serrados, porque não servem nem pra adubar uma cueca”. Vander entrou pela porta da frente controladamente, sem barulho, com a arma em punho sempre. Viu que ninguém estava no quarto. Pensou no pior “A piranha gostou tanto que fugiu”. Deu uma caminhada pela casa, e notou algo pelo vidro da janela, chegou mais perto e ouviu os sons do serrote. Regozijou, ainda teria tempo. Escondeu-se e esperou ambos entrarem novamente no quarto.

Salete entra novamente no palco abraçada com o boneco jardineiro, beijando-o. Vai até a cama e entra com ele embaixo dos lençóis.

Peça uma peça ( XXVIII )

Salete e Vander saem do quarto. Vander ergue o corpo(boneco) com uma mão e ambos saem do palco. A narradora apanha as roupas e também sai do palco. Ela volta com um pano e um balde e limpa onde supostamente havia sangue no chão.  Depois leva o balde e o pano para fora do palco e volta para a posição original olhando para a plateia.

Narradora

– Todo esquartejamento era feito no banheiro, com um serrote roubado do jardineiro, a primeira vítima. Rendeu somente dez reais e o cara tinha os ossos duros como um pistão de trator. Esse jardineiro foi estudado pelos dois. O viam passar, dia sim, dia não, com sua bolsa de ferramentas, sempre olhando pra baixo ou para as placas de trânsito. Escolheram uma quarta-feira, um tempo nublado e mal cheiroso. Salete vestia um vestido justíssimo, saiu pela porta da frente e chamou:

Narradora olha para fora do palco onde supostamente está Salete.

Voz de Salete fora do palco

– Ei jardineiro!

Narradora ainda olhando para fora do palco

O homem meteu os olhos nela, já pensou na sua ferramenta, na sua mulher feia e gorda, nos seus filhos que ele abandonaria no primeiro furacão, em toda sua vida cortando árvores e jogando merda em flores. 

Voz do jardineiro fora do palco e mais baixa, dando impressão de estar longe de Salete, ainda não entrou pelo portão da casa

– Diga moça.

Salete

– Tô precisando podar umas árvores aqui atrás da minha casa. A gente pode marcar um horário?

Jardineiro (ainda voz mais baixa)

– Deu sorte senhorita, posso fazer isso agora!

Salete

– Ai que bom! Pode entrar, o portão está aberto.

Barulho de portão abrindo e fechando. Passos.

Narradora

Ao entrar pela porta da cozinha, já viu Salete nuazinha, com uma rosa nas mãos. E como a cabeça de um homem para de funcionar num momento desses, ele achou perfeitamente normal aquela situação, afinal, ele era um jardineiro forte, desejado por no mínimo dez mulheres, que tinham timidez demais para se entregarem a ele, mas um dia, uma iria se render ao seu cheiro de adubo nas mãos, e se jogar de corpo e tudo sobre ele.