Lúgubre ensaio

Tenho tentado por muito tempo
Empacotar espasmos ao lado da anemia mediterrânea
Hemoglobina, glóbulos, pulso, fraqueza
Algo dentro das veias que pudesse jorrar oxigênio
Orgasmos brancos e vermelhos
Que um pequeno corte na sobrancelha
Fizesse-me cantar o hino nacional
Explodir espinhas, com pedaços de júbilo e pus fertilizando a pele
Pus!
Pulsando em minhas veias
Estou pronto para doar
Cortem-me
Enfiem a agulha com orgulho
Se preferirem gasolina
Só semana que vem
Por enquanto sou leviano
Tão despreocupado
Quanto os bagos do Papa
Eu batizei minha doença
“Complexo de empatia”
Geneticamente incompatível com os genes
Por isso fiquem relaxados
Ocupo seus lugares
Sem saberem facilito suas vidas
Miseráveis que só andam de frente
Andar de costas não quer dizer voltar
Pus
Eu pus
Amarelado
Temperei e fiz gargarejo
Para que possam dormir tranquilos
E desperdiçar mais um dia
Meu
Está pronto o caldo!
Raízes, raízes, diretrizes, atrizes, permissão
Tradições, traições, resgate num avião de papel
Tenho tentado um começo histórico
Daqueles que o fim seja um mero, sagrado e insolúvel erro
Trago comigo a indecência do pecado puro
Mentiram pra mim também
O diabo não é cego, anjos cobram insalubridade
Deus é um gordo bêbado
Velho testamento…Cervantes escreveria melhor
I.N.R.I?!
Insaciável Necrófilo Rindo dos Imortais
Ha-há-há
Minha fé é um jogo de azar
Tenho tentado perdê-la
Tenho tentado perder tanta coisa
Que ganhar é um suspiro de humanidade
Do qual estou acostumado
Música, arte, caprichos, fantasmas, sal, isopor
Gente com pena
Gatos negros reagindo ao colorido dos olhos
As fezes brancas
1,2,3….
Corta!
Esse lúgubre ensaio
Proporcionará uma peça
Os aplausos ou vaias
Que fiquem com vocês
Enquanto me abstenho disso no próximo gole

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