Orgia de um homem só

Na frente do espelho, nua
Vira, desvira, lamenta e vibra
“O que você acha da minha bunda?” Pergunta
“Grande e mole” Respondo
“Sério?”
Vira-se, dobra o pescoço por cima do ombro direito, depois por cima do esquerdo
Apalpa as duas nádegas, como bolinha para estresse
“Merda” diz
“O que foi?”
“Grande e mole”
Desvira
“O que você acha dos meus peitos?”
“Médios e moles”
Ergue-os até perto do queixo, e prensa um contra o outro
Sorri, sabe que estou blefando com os peitos
Fica de perfil para o espelho, não tira o olho dele
Entorta-se um pouco, com as mãos na cintura
Levanta a perna esquerda, deixando o dedão do pé esquerdo tocando o chão, a ponta dele
“O que acha da minha perna esquerda?”
“Curta e grossa”
Pousa o pé esquerdo, troca de lado, faz o mesmo movimento com pé direito
“E minha perna direita?”
“Curta e grossa”
Vira-se de frente pro retângulo refletivo e joga os cabelos por cima dos peitos, alisa
“E meu cabelo?”
“Longos e encaracolados”
Levanto nu, me coloco atrás dela, apalpo seus peitos por baixo dos cabelos
Como bolinha para estresse
“O que você acha do meu pau?”
“Curto e mole”
Puxo seus cabelos e cubro suas costas
Nua no espelho, eu a vejo, mas não me vejo
O reflexo é só dela
Parece um quadro, com tintas incandescentes
“O que você acha do meu pau agora?”
“Curto e duro”
E as cortinas permaneciam fechadas
Enquanto a intimidade fluía nos alicerces
Uma dose de intimidade compartilhada tem mais valor que uma garrafa de amor lacrada
E há tantos que amam por anos, e acabam como sapo e galinha
Provando perereca e medo, ganhando ovos e pedradas
E eu, todo desprovido de amor ferino, ainda a tenho íntima
E posso cerrar minhas cortinas
Sabendo que o amor não faria falta perto de nossas intimidades
Que as coisas sim
São síndromes definitivas ou temporárias
Mas que felizmente serão lembradas
Como agora

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