a libélula de uma cor estranha
batendo asas de olhos fechados
eu falhei em contemplar tanta beleza
mas ela continua
está tão perto
que me espanta pensar em respirar
e espantá-la
não estamos conectados
estamos frios
dançando um tango estático
suas asas aceleradas fazem um som ininterrupto
vupt, vupt, vupt, vupt, vupt
rápida como o laser da animosidade
vácuo vago
chacina empírica
vivemos na velocidade da vida
mas fomos ultrapassados pela morte
respiro fundo e a libélula não se move
nosso quadro sem pintor
cuspiram nosso momento íntimo
ela mantêm-se em equilíbrio com o ar
eu vendi o futuro de três pessoas
vupt, vupt, vupt, vupt, vupt
minimizo os detalhes
agonizo nas possibilidades
demarquei um território inóspito
onde sangue é ingrediente para o alivio
esse inseto rodeia plantas verdes em formato de coração
talvez queira um daquele tamanho
talvez encare aquilo como bundas em pé
vendi o futuro de três pessoas e não ganhei nada
pelo contrário, pago até hoje
minha libélula não sabe disso
desconfia
mas sou tão grato pelos momentos
que me recuso tentar cortar suas asas
então de olhos fechados
nos despedimos
e voamos baixo, unidos
pra lugar nenhum