o cabra bebe mais que a cabra
que béééééééébe
e se pega pensando
no quanto tá fodido – digo
tá cada dia mais preguiçoso
barrigudo, lento, dolorido
ordinário, pestilento
descabido.. anda sem
apetite para as tais coisas da vida
coisas que deveriam animar
como beber sozinho ou ao menos
trepar, não ousando dizer
amar.. já não se recorda a data
do último banho e não se importa
arrota mais alto, peita molhado
enquanto espia os gatos lá fora
brincando sem saber sua idade
e se soubessem também,
dormiriam aquém? não
tem nenhum sentido mas funciona
por exemplo, quando você se pega
lembrando daquele inverno
onde hibernou e de fralda
não precisou se levantar
para nada.. ah, boas fraldas
aquelas..
Autor: Eduard Traste
Deusas
poucas mulheres
já me deixaram
com o pé
atrás, na dúvida
quanto à existência
desse tal
Deus
e suas obras
divinas..
você, Raissa
sem dúvida alguma
é uma delas.
heroína
em sangue venoso
ou arterial, um orgasmo
abdominal.
ipse dixit
ele me disse que era Deus
e que fazia poesia
com qualquer
heresia..
“a última fiz na panela de pressão
por isso tamanha maciez
na mordida”
– hum..
“mas a melhor
foi aquela que fiz no liquidificador
ficou perfeita. tudo tão maravilhosamente
combinado, que não se podia identificar os ingredientes
não se podia
compreender o gosto
apenas degustar o sabor final
era o que restava
no fim”
– hum..
“e teve aquela poesia ébria
que fiz no estilo cowboy: pura e sem
gelo. me abracei no Jack e fui
ladeira abaixo à noite toda
sem freios ou
anseios. pra no fim
quase ninguém
entender..
hoje eu sei
sei que não é poesia para todos
hoje eu entendo, e se bobear
até ofereço
gelo”
– hum..
“e os teus?”
– os meus?
“poemas?”
– não sei se já escrevi
algum, faço tudo à ferro e fogo
rudimentar demais para agradar
e no fim sai tudo
muito
quente?
“hum…”
– exatamente!
a PRIMEIRA vez
é sempre depois do sexo
quando estamos ali
naquele momento
único. depois da primeira
quando ela deita
virada para um lado
ou para o outro,
e o que ela diz
ou não diz,
e como se levanta
para ir ao banheiro,
e o sorriso que esboça
quando retorna,
como cruza as pernas
enquanto beberica
um trago e fuma
um cigarro..
é depois destes momentos
que naturalmente sei
se é apenas sexo
ou algo mais..
desde sempre
“em toda parte um intruso
em nenhum lugar
bem-vindo” – parafraseando Mahler
é assim que me sinto.
sobre gatos, poemas e poetas
se o poema é ruim
coloca um gato no meio
que desenrola
se o poeta é ruim
coloca um gato no rim
que ele devora
o poeta o rim e a poesia
ruim
no fim, nada resta
com ou sem gato, poesia
ou poeta.
fragmentos espaciais
não comprei
comida de gato
declarei falência
renal
dormi com a janela
em cima dos braços
abertos.
delírio diário
não sei bem
por onde tenho andado
mas as pessoas à minha volta
estão me matando
de preguiça. e não sabendo
para onde ir. sem sono
só, em casa eu fico
doido.
American Bar
1 Stella
1 Corona
2 Stella
2 Corona
2 Stella
3 Corona
e para quase todos
como tudo na vida
isto não deve significar milho
ou ervilha.