antes eu sempre sabia
quando o capiroto me espreitava.
agora vivo na dúvida: é ele
ou a debochada da minha vizinha
outra vez
de tamancos
novos?
Autor: Eduard Traste
quarta-feira ácida
cinzeiros cheios
cervejas chocas
machados afiados
livros rabiscados
poemas neurais
aranhas suicidas
sapos trepadores
tudo muito normal
para uma quarta-feira
de meio-dia, enquanto nu
observo de cima da árvore
se algum movimento
é realizado pelo cachorro
que nada percebe
da minha
viagem.
factual
ímpar,
sou estranho.
mudo,
mas não muito.
igual a mim o mundo está cheio
feito cachorros de quatro patas
e um único rabo
no meio?
tudo bem,
não estou bem ali
embora seja sempre eu
ausente sobre os mesmos pés
reparem bem,
quando pareço concordar:
“a cor das moscas não é a mesma
ao sol, e as flores
são apenas ilusões coloridas
em seu bucólico jardim
florido demais
para mim”
gênio brasileiro
apareceu
com a lâmpada quebrada
e um único pedido
e assim foi feito:
“desejo ser o mais ofensivo
possível, com o menor número
de palavras”
então o fitou com aqueles olhos
de quem perde dois pedidos
e ainda tem coragem
de pedir um copo-d’água,
e disse:
“cu”
e desapareceu
H de História
tem essa mulher
que apreciou
o que escrevi
tem essa mulher
com quem troquei
correspondências
tem essa mulher
que veio de longe
me conhecer
tem essa mulher
que dividiu alguns
de seus dias comigo
tem essa mulher
que devorei
em partes
tem essa mulher
que respirei
por noites
tem essa mulher
que senti
por inteiro
tem essa mulher
que já voltou
pra sua vida
tem essa mulher
que me deixou aqui
querendo mais
tem essa mulher
por quem tenho
batido punheta
tem essa mulher
que tem aparecido
em meus sonhos
tem essa mulher
que eu ainda
não entendo
tem essa mulher
que tenho desejado
noite e dia
tem essa mulher
que tenho revivido
dia e noite
tem essa mulher
que já não sai
da minha cabeça
tem essa mulher
tem essa mulher
tem essa,
mulher.
filhos gêmeos
ideal para
separações
subtraindo uma vida
tristeza besta
que me assola ao ver
cair de costas, o gato
como jamais foi visto
antes.
de bolsos furados
não tenho mais nada.
fiz questão de abrir mão
de tudo. na verdade,
confesso: troquei tudo
por minha liberdade.
e agora como esperado
já consigo ir adiante
e quase nada
me atrasa, enfim
respirando,
vida.
definições de última hora
“você foi uma das piores coisas
que já me aconteceu
você é horrível
demoníaco
espero que você morra
quero te ver em um caixão
espero que não demore
você é a primeira pessoa
que eu realmente tenho vontade
de matar
foi um erro ter te conhecido
seu maluco de merda
foda-se
foda-se
filho da puta
você é a porra de um louco
doentio
sociopata de merda
nunca mais quero te ver
nunca mais quero saber
de você
boa sorte na sua solidão
foda-se também
morra nela
vai se ferrar do fundo
da minha alma
você é realmente
horrível..”
depois de estimada carta
pensei em escrever algo
a respeito, mas acabei desistindo
assim, contentem-se
com mais uma opinião alheia
mesmo que não queira
dizer porra nenhuma
ou tudo – o diabo
que o seja.
antes do tapa
ela disse:
posso ajudar?
eu disse:
tô de pau duro,
pode?