ela comenta
sobre meu abraço
de urso. um abraço
que segundo ela
devo dar em todas
não fazendo ideia
que virei urso,
foi com ela.
Autor: Eduard Traste
sobrevida na poesia
penso que estamos
tão próximos
da morte, e vejo
que ambos, assim
simplesmente
não nos importamos
mais
…
e isso é muito bom
se você não parar
pra pensar na vida
sem esse outro
alguém, que parece
assim como você
não se importar
com nada ou com
ninguém.
bem-te-vi
sentado aqui
sozinho, fumando
escutando o bem-te-vi
te chamar, e você
longe demais para ouvir
os nossos anseios
me faz cantar calado,
agora.
revisitando Caetano
se é proibido proibir
quem proíbe
é o quê?
e quem permite
que proíbam por proibir
o que é?
e quem não proíbe
e nem permite que proíbam
o que faz?
e você?
emoção enlatada
você deve buscar
mesmo nas pequenas coisas
como deixar de colocar
o relógio para despertar
depois de um tempo
quando você sabe
que sozinho
tem chances de acordar
então você esquece
e manda o despertador
para o inferno
e agora vive
com mais emoção
ou ao menos
com alguns atrasos
mais.
na prece diária
encontrou na Igreja
o Papa de joelhos
abençoando Jesus,
Cristo!
solto no quintal
acordo em pé
sem saber se dormi
segunda, terça, quarta
já não sei nada
e o que importa?
bundinhas redondinhas
pulando as cercanias
peidinhos engolidos
na agonia da casinha
chupadas homéricas
em um começo de férias
o pão de cada dia
no lixo ou na poesia
o que importa?
uma fumaça sobe torta
hedionda e tremida por trás
das sombras abandonadas
pelos cães desolados
enquanto na janela florida
flores florescem florindo
e eu aqui rimando merda
com dejetos suínos
política com poluição
indo dormir agora
porque o cão late
em estrondoso alarde
requisitando seu quintal,
enclave.
poeta merreca
ela me chamou de merreca de poeta
um poeta que só pensa em perereca
e hoje percebo que ela estava certa
vivendo na merreca, comendo perereca
mas não a sua merreca de perereca
eu agradeço, sendo o poeta merreca
que sou.
a verdadeira tragédia
e o mundo vai ficando
suportável. problema mesmo:
acostumar-se.
vivas criaturas
no ônibus,
você escuta a conversa
e acha aceitável.
dois seres autênticos
um assunto
plausível
um ponto de vista
interessante
e então você se vira
e confirma: os pés ainda
não alcançam
ao chão.