com a mente distante
ansiando ouvir o som de outros lugares
desejando respirar outros ares
descobrir outras almas,
mas não podendo ficar por lá
por muito mais tempo, permaneço
aqui.. por hoje apenas
junto de ti,
poema.
Autor: Eduard Traste
do suicídio alegre
oferecer ao Sol
a superfície da pétala
que ainda é flor
pacu peixe
feito empedrada merda
em intestino preso e mole
das pernas
salto hoje para além
da privada da vida
merda esgoto abaixo
cheirando verde
aspirando amarelo
em outros tons
o poema perde a cor
de bosta
ovelhas
quinze mil ovelhas
viajavam insatisfeitas
em um navio
até que
não se sabe
se pegando à direita ou
à esquerda
se juntaram e tombaram
o “Titanic”
isso vos diz
algo?
alteradatarde
assisto
ao filme pela quinta
vez e pela quarta-feira
ainda hoje
vejo a mesma toupeira
desnudar-se
alguém pode
por favor me dizer
o que foi que tomei?
ou ao menos
qual é
a dela?
humanidade
no lixo
no final
lá no chorume
eis o que resta
de nós..
TEKIRA
estávamos lá
Eu e todos os outros
Eus
sim, não sei como
mas conseguiram
reuniram todos
até quem morava longe veio
muitos que acreditávamos
mortos estar
também apareceram
parecia distribuição de vale litrão
não dava pra entender
até que Eu
taquei-me-tequila
de cima abaixo e logo disse
que dali ninguém saía vivo
foi quando tive minha total atenção
ou quase isso
alguns tremiam, outros babavam
alguns apenas rastejavam
mas tudo bem, tudo bem
foi o que sempre fizeram
então continuei com meu discurso
a todo meu ser desleixado
e foi digno por alguns minutos
até que não aguentando mais
e sendo mais do que Eu
queimei todos nós
em uma grande salva
de fogos
propenso à poeira
três anos de vida
três livros vendidos
fluindo rio abaixo
em meio aos fluidos
de suspeitosa corrente
abro hoje este livro
aberto tão pouco
por quantos?
confesso, pouca
ou nenhuma
diferença o faz
quando o leio mais
uma vez e talvez
feito primeira
ou última
que o faça
que o sinta
são apenas certezas
de que desde sempre
desde o nascimento
de nós, e de toda
verdadeira tragédia
tudo está e tudo continua
inerentemente
propenso à poeira
de repente
tudo faz sentido
nada mais importa
só
o silêncio ecoa
de repente
o poema nasce
de repente
o poeta cisma
antes da rima
do poema
antes
da vida
seu dilema
de repente
o poema morre
renasce
miraculoso enlace
de repente
o poeta declina
o poema termina
com ou sem rima
só
de repente
melhor queimar
queimo o poema logo após escrever
o cheiro é ruim
a fumaça densa massiva tóxica
o sentimento unicamente
miserável – e no fim
apenas consequência
como tropeçar em si mesmo
ébrio de constatações
batendo com a cabeça na escada
da realidade
acordando jamais
isso porque não vale o esforço
mais fácil, mais desejável
queimar tudo de uma só vez
poeta e poesia