quando você acaba um ano com 39 poemas escritos
você inevitavelmente se pega pensando em Bukowski
e outros poetas dignos
de lembrança.
então por alto você calcula:
Bukowski teria escrito,
FACILMENTE,
uns 1460 POEMAS.
mas você não o viu escrevendo
por isso prefere acreditar que elevaram o sofrimento
e na sua cabeça constam apenas 720 poemas.
nada de 730!
– que PORRA você acha que sabe?
no final das contas o resultado é tão óbvio
que você acaba se masturbando com as fotos da sua mulher
enquanto ela dorme ao seu lado
sem
calcinha.
Autor: Eduard Traste
uma verdade
tudo em mim soa assim
desagradável, sim
mas vou mentir
pra mim? seguir assim, eu
por mim desejo que meu fim
seja assim, nesta linha verdadeira
eu por mim e minha vida,
inteira.
na mesma
ratos alcoolizados boiam
tranquilos na piscina da inércia.
eu, um pouco mais barrigudo
e menos peludo,
afundo.
vidas que seguem
naquele mesmo bar
de sempre. ela
queria ele. ele
queria ela
mas ninguém disse
nada, e nada
aconteceu. como se ela
não quisesse ele
e ele, não quisesse
nada.
lucro líquido
já tem alguns dias
alguém vem usando o banheiro
aqui em casa. não sei quem ou porquê
até consigo imaginar o motivo
mas não o estrábico
intruso. só sei que toda manhã
tenho vivenciado o mesmo estrago:
esse corvo bicando minha janela
revivendo Hitchcock
e uma bela urinada na parede
confirmando minha sorte.
hoje cedo, enquanto ainda matutava
buscando resolver o mistério
ao abrir a janela, vacilei
e distraído o corvo me levou um olho
na tardinha, tudo pairava indefinido
eu ainda não tinha resolvido
o problema do banheiro muito menos
o do olho, quando ele voltou e levou
meu segundo sapato
me deixando descalço
e ainda mais,
curioso.
quarto fato
avó safada
também
mostarda
-se.
consciência apurada
alguns poemas se perdem feito consciência
no sábado à noite, e nunca mais
são recuperados.
em mais uma noite
mal iluminada pelos observadores
postes, movimento meus pés
repetidas vezes, saindo do lugar
decidido a ser alguém
melhor.
já não posso mais.
preciso largar o cigarro
o trago, a erva
a putaria, os tecos
os baques
e todos os outros
vícios.
preciso ter horários
preciso ter amigos
preciso ver meus
filhos
PRECISO MUDAR!
preciso incluir comida
no cardápio diário
compartilhar com a mesma mulher
um almoço farto
alimentar o gato
com comida de gato
no fim das contas;
viver uma vida
mais digna.
afinal, que sujeito ébrio
tenho sido? quem foi
que ainda
não desrespeitei?
quem sou eu
para o gato que atualmente
mudou de cardápio?
e para o rato
que desamarrou
meu cadarço?
no caminho do trabalho,
que já não percorro há alguns dias,
começo a seguir um homem.
um sujeito aparentemente
normal.
com passos precisos
parece saber onde quer
chegar – e isso muito me atrai
por isso apresso o passo
ainda mais
visto que ele caminha rápido
lembrando bem
minhas próprias passadas
meu próprio
ritmo,
a diferença;
parece saber
onde vai – definitivamente
por isso continuo seguindo-o
disfarçadamente
não ousando se quer
tirar as mãos sujas
dos bolsos furados.
preciso ver
onde este homem vai chegar
e como vai se salvar.
eu verdadeiramente não sei o motivo
mas não consigo evitar
sinto que preciso aprender algo
com ele
parece ser a única saída
por isso aperto novamente o passo
quando o vejo
sem nenhuma dificuldade
adentrar em um ônibus
todo vermelho.
eu grito com o motorista
que fechou a porta na minha cara
chuto a porta, faço o diabo
e então ele a abre
novamente, embora que me ignorando
totalmente, como se
eu fosse invisível, ainda assim
antes que eu possa dizer
qualquer coisa
ele me comunica sem dizer
uma única palavra:
“permitimos animais
porém jamais
uma consciência
apurada”
sem reação, observo o ônibus partir
lentamente, a ponto de conseguir ler
em sua lateral em letras sinceras
e amarelas:
ser “normal” é o ideal
dos que não tem
êxito.
no frescor da doença
tornou-se
retardado
mentol.
miado suspeito
o miado
é de gato
preto
mesmo quando
o gato branco
mia
forjando
a cor
do dia.
por pouco
pegava o guarda-chuvas
ligava e te serrava ao meio
da chuva.
mas por sorte
sua, hoje
tomei banho.