os sapatos do homem
eram sempre os mesmos.
a dor em seus olhos
variava,
de pé.
Autor: Eduard Traste
eco verdadeiro
você acorda em meio ao nevoeiro
com Villa Lobos ecoando
em sua mente e
um cigarro pela metade
queimando pendurado no canto
da boca
e antes de descobrir
de onde vem a música
superior
você percebe que:
o que te alimenta
o que te mantém vivo
não só respirando, mas gritando
fodendo, resmungando
vivendo ou ao menos
tentando
o que te faz acordar
e ainda, levantar
da cama
mesmo nos dias de muito sol
e poucos cachorros
na rua, na lua
é também o que te mata
cada dia mais
mas é a vida, você bem sabe
por isso sorri sozinho
internamente – não facilita
sabe que teve sorte em achar
algo que te alimenta
verdadeiramente
algo que dinheiro algum
pode comprar
ou guia algum
te levar
algo que hoje já não existe mais
por si só – assim como você
de forma que morrer de fome
morando em uma caixa de papelão
lhe parece apenas mais uma
maneira de morrer
entre tantas
outras
então você aceita de bom grado
e brinda sozinho
enquanto a maioria simplesmente desiste
evitando viver
evitando morrer – é claro!
acabam por depositar suas vidas
em pequenas e insustentáveis
caixinhas de fósforo
que carregam por aí, em seus
limitados bolsos
caixas que serão protegidas até os últimos
dias
de chuva ou sol
até os últimos dias
de vida?
isso não interessa
nem ao mais desocupado
dos insetos
e você apenas agradece
pela Bachiana brasileira n° 4
mesmo não sabendo de onde
ela ecoa
exatamente.
café de quarto grau
estava sem coador
quando o disco voador
voou
e deixou uma velha meia
em cima da torta
torneira
– torneira torta!
debochado retruquei
quando me peguei bebericando o café
com indelével gosto
de chulé.
poema
com a mente distante
ansiando ouvir o som de outros lugares
desejando respirar outros ares
descobrir outras almas,
mas não querendo ficar por lá
por muito mais tempo, muito menos
aqui.. por hoje apenas
respiro contigo
junto de ti,
poema.