sempre subo
no chuveiro e dou uma mijadinha
de leve enquanto ele toma banho
coisa quente e fina – ele nunca notou, inclusive
acha bonito eu ali parado
e ri feito um tolo quando faço nada sou só graça
mas quando estou com fome
e com o Diabo no corpo
feito hoje é que mijo pra todo lado
um mijo bem gelado
seu miserável..
Autor: Eduard Traste
RECICLAGEM
não sei
se é pelo planeta
ou pelo Capeta
eu não sei
realmente
não sei
mas eu reciclo
ainda assim
e você
deveria pensar
sobre isso
ou ao menos
reciclar
seu lixo
se avizinhando
ela já havia me dado
umas boas olhadas
mora no 203 e eu no 101
e naquele dia eu estava doido
diferente de todos os outros
o carteiro perdido diria
hoje eu queria e queria mesmo
então na cama depois de começar
a tocar uma bem despretensiosa
me peguei pensando nela
e em como gostaria de
simplesmente ligar e ordenar
– venha! – como eu sempre gosto
de fazer no começo
até ela perceber o quanto sou
um cara legal – apesar dos pesares
então resolvi, saltei da cama
fui pelado pro interfone
respiração ofegante
com tudo pronto nas cabeças
e chamou pela primeira vez
enquanto continuava tocando
respirando feito um urso
imaginando como ela ajoelharia
obvio que não cogitei ela não dizer
“ok, estou pronta e descendo”
e não estou sendo machista
estou apenas sendo honesto
com minhas fantasias
assim esperando no interfone
batendo com ainda mais força
a segunda vez tocou
e me peguei pensando se primeiro
foderia seu cu ou sua garganta
na verdade não estava pensando muito
todo sangue na cabeça certa
imaginado ela sentando
com aquela raba bem desenhada
rebolando provocativa enquanto
não a pego de jeito
mas toca pela terceira e pela
quarta vez o interfone e
ninguém atende
sorte minha
no fim
é que ao terminar o poema
e desligar o interfone
GOZEI!
Serial K.
pendurei na cueca
uma cordinha
e na cordinha
um isqueiro
assim
tô sempre
com ele
e ela
não disse
nada
depois pendurei
outra cordinha
e nesta
uma caneta
e ela então
perguntou
pra quê?
pra escrever
mas
tu nem
escreve
filha da puta
pois é, a caneta
é puro charme
confessei
enquanto furava
seus olhos
com minha arma
tinta preta
fantascópio
alongo mentalmente
para um dia imaginário
um morto feito
preparado para o Sol
que nunca chega
que lá fora brilha feito vida
imagina-se ainda
instigando aqui dentro
o ser apagado
esquecido, tolido
nas sombras
da vida, das vidas
pouco resta,
pouco resto,
transpondo paredes
nuas, nu
quero absorver
quero ser absorvido
quero sentir algo
preciso
estou cansado de ser
quem tenho
sido
minha nada mole vida
hoje nem dormi
vinte horas
no máximo umas
dezesseis
acordei com fome
pra variar
e como sempre
o Traste
não deixou
meu prato feito
miei, miei, miei
e nada,
voltei a dormir
mais quatro horas
que me faltava
acordei e nada
miei, miei, miei
quase apanhei
mas comi de boas
e agora enquanto mio
só pra infernizar
os poemas do tal poeta
com cara de safado
vou deitar mais umas
horas, mas agora
desse lado
Florbela
os cachorros latindo
nunca é você chegando
isso me mata cada dia mais
e cada dia menos
de mim
resta a esperar
ao latido que irá te anunciar
e me tirar deste inferno velado
porque hoje
uma das poucas coisas
que ainda faz algum sentido
é te imaginar surgindo
em meio aos latidos,
Florbela
Gatázio
sou uma espécie de gato
destes que andam por aí
sem dono, sem rumo
sem ter para onde ir
destes que vez por outra
alguém se comove ao ver na chuva
e então leva pra casa
um gato que por uma ou duas noites
pode ser maravilhoso
até mostrar suas garras
e então você se livra dele
mandando de volta pra chuva
se for preciso
sou do tipo de gato
que chega sujo da noite
que já caiu de algumas janelas
que já brigou com alguns cachorros
que já perdeu algumas das sete vidas
daqueles que nunca comem
comida servida
um daqueles que por sorte
não caiu na castração social
sou um destes gatos
que apesar de toda tragédia
continua com todo brio
que um traste gato pode ter
ao andar por aí
ela continua vindo
tô um lixo
bêbado há dias
cuspindo sangue
noite e dia
cagando quando
acontece
mijando sangue
mesmo com preces
não há nada certo
aqui, não há nada
aqui nem certo
nem errado
não há nada
e mesmo assim
quando eu peço
que venha você vem
mesmo não havendo
nada por aqui
e isso me diz
muito sobre você
mas ainda mais
sobre mim
nado nada
lendo uma revista
cientifica de renome
descobri que aquele papo
que você ouviu
tantas vezes
da sua mãe, da sua
avó da sua tia
de que você devia
esperar uma hora
para nadar
depois de comer
pra variar
não tem base alguma
assim, adicionemos
mais uma
variável ao cálculo
das horas perdidas e
FODA-SE!
nunca nadei na vida
nem mesmo em piscina
nado nada