azul transol amarelo

subo no ônibus azul
de transol amarelo
e com a mão no bolso
furado
do calção
fazendo discretos
movimentos
acaricio o prepúcio
e a glande
do meu enrijecido
PÊNIS, PAU, CACETE
enquanto observo aquela
possível avó
de uns 56 anos
talvez
54
segurando seu neto
de uns prováveis
3 anos
uma delícia de coroa
a cena me excita
mas tão logo ela se senta
com aquele rabo
bem
desenhado eu
passo
passo adiante
passo para próxima
ereção
constante

decepção – é o que
normalmente
resta

uma vida nas mãos
de uma grande
porca
a criança
que mal sabe
algo do mundo – ao menos
não aparenta – conste
observa a “mãe”
com certo
terror
nos
olhos
mas o vômito
só jorra
quando outra porca
se aproxima
e começa a fazer
graça e
apertar as bochechas
do
infeliz
a cena é magnífica
uma careta infantil
o miserável aperto
nas bochechas
enfim
rebatidos
à altura
os rostos me alegram
me sinto regozijado
o escárnio
na face do bebê
chega a me excitar
mas o cheiro é forte
parece que comeu
placenta no café
e merda
no almoço
por isso
desço logo
no próximo
ponto

na calçada
ainda excitado
me pego pensando
nas quantas vezes em que vomitei
e percebo que foram tantas
e a grande maioria, sim
quando criança

hoje vômito – concluo
só o necessário..

Curitibanos

algumas são boas de cama
apenas
para muitos
bastam
para muitas horas, eu diria:
bastam

outras são boas de sentar
beber, conversar
fumar um
e para alguns ou
por alguns momentos
ao menos
elas bastam

algumas são boas de cama
boas de conversar
compartilhar
fazer parte de suas vidas
estas, porém
em sua grande maioria
se bastam

de mulheres que bastam
o mundo está cheio
assim como eu
que embora vazio
me encontre transbordando
de mulheres que bastam



por sorte
existem formas únicas
espíritos imensuráveis
as verdadeiras obras de arte
vivas
pessoas verdadeiramente
indescritíveis
inesquecíveis
insubstituíveis
como esta
que acabo de reencontrar

nestes momentos
você sente o verdadeiro cheiro
e gosto
da chuva
que permeia soberano
entre o cheiro de cigarros
e Amarula

as proporções são eternamente
incomparáveis
o cheiro da chuva
aqui, agora
me transporta para outro universo
um universo onde tudo está
e permanece
seguro
perfeito
como se o tempo
verdadeiramente tivesse parado
em nosso favor



iludido
quando a chuva se vai
eu caio
um ateu de joelhos
orando para o salvador inexistente
até porque você se basta
ou ao menos
encontrou alguém
que te basta.

retrato de uma molécula desenrolando

eu estava no Irã em abril de noventa e nove
quando depois de cheirar as cinzas de um poderoso
xamã – já falecido?
– “SAMAN” – rosnou o siberiano com frio
– “SRAMANA” – tive que rosnar de volta
perdido vislumbrei

em um campo arado qualquer no meio da noite
eu estava tão alterado que por momentos acreditei
que estava em casa
aqui mesmo no Brasil, na casa verde
sim, sim.. mas então algo aconteceu
algo que não poderia estar acontecendo
no Brasil – nenhum incentivo para o que importa
verdadeiramente
uma fêmea, com cara de bicho manso
apareceu em meu caminho
uma fêmea muito estranha
tão estranha que não deu pra evitar e olhar
sem piscar, nem disfarçar
então acredito que ela percebeu
CAPAZ, a situação:

“bebo leite que já vem com remédio”

foi a primeira coisa que me disse
depois entre esquerdas e direitas
gás hélio de um lado e células alvo do outro
ela acabou aceitando uma cerveja
sem álcool

“gostei dos seus brincos de plástico”

comentei na tentativa de mudar de assunto

“eles colocaram com um mossador
não tem graça alguma”

“ok! Ok! OK!”

eu já estava na décima segunda cerveja
com álcool, que demorei a perceber suas óbvias
limitações

“espere um pouco,
então você coloca essa tripa celular
nesse caldo de sais
e desse mingau de porra
você tira
proteínas?”

questionei perplexo
antes de deixar Polly falando sozinha
e seguir adiante com minhas piruetas
no vácuo


eu não preciso de porra nenhuma
muito menos de porra alterada – pensei comigo
enquanto arrotava alto em sua direção

quebra-esquinas

você percebe
que tá fodido, digo
ficou sem bebidas
e não tem se quer
carteira de motorista
muito menos um carro
sendo sincero
só um sapato furado
e a chuva, a chuva
que te fode essa noite
direto na bunda
ainda assim
você cria coragem
e parte
em busca da salvação
e assim que consegue
feliz vem voltando
com duas garrafas
de vinho e uma
de RUM, além de
algumas cervejas
e você está realizado
na rua todo molhado
fechando os olhos
e se imaginando
o dono do mundo
e ninguém está ali
pra te lembrar
do quanto você
é um fodido
e por isso você é
o dono do mundo
ao menos naquele
momento com aquelas
garrafas carregadas
você goza na chuva
goza na alegria da vizinha
goza no telhado da bodega
goza na orelha da morcega
goza no cuzinho
da atrevida
da vida
e você goza
e goza e goza
e quando chega em casa
já não tem garrafas
nem alegria
e muito menos
PORRA!
e sua mulher
bom, acontece que
sua mulher
ela quer
PORRA!
e assim o pau come
mesmo que sem fome