o lixo transborda
a cozinha já é refúgio para os ratos desabrigados
e mais do que minhas meias e cuecas
a privada fede
e escorre
escorre
escorre
o piso está grudento
guimbas de cigarro se misturam
sentimentalmente
com o mijo dos ratos escondidos no sofá
lembrando dos pulmões afetados
eles estão por tudo
poucos vivos – preciso avisar
a maioria já foi vencida pelo tempo
pelo tédio
enjoados da cerveja derramada pelos amigos
ou inimigos
enojados pelo descaso
perplexos com a convivência estabelecida
tudo fede nesta casa
esteja morto ou vivo
estamos tão cheios da mesma merda
que tenho tido medo de fechar os olhos
afinal
cedo ou tarde
quando tento inutilmente dormir
feito um rato
com medo de minhas próprias armadilhas
todos acabam caindo na ratoeira
cedo ou tarde
no mais tardar
hoje à noite.