Comecei a ler o livro enquanto andava sob as luzes dos postes, já tinha me habituado ao caminho, pisava sem olhar, atravessava ruas sem olhar. Estava relendo a primeira página pela décima ou mais vezes, quando ouvi uma mulher no orelhão ao lado do mercado esbravejando coisas: “Você me fez vir até aqui e não quer mais? Você com certeza é o maior idiota do bairro! O maior idiota da cidade! O maior idiota do Brasil! O maior idiota do seu cu! Filho da puta!”.
Só conseguia ver suas pernas se balançando enquanto xingava um possível clone meu. As ruas estavam infestadas de Ramon’s e todos eles eram iguais, sabiam exatamente como deixar uma mulher furiosa. Parei um pouco na luz de um poste e fingi ler enquanto continuava ouvindo, ela cada vez mais doida: “O quê? Sua mulher vai chegar daqui a pouco? Por que me ligou então? Vou aí foder ela na tua frente!…Chamar a polícia? Eu fodo eles também! Na tua frente!…E como fica o ônibus que peguei para chegar até aqui?…Você não sabe?…”
Tentei ler de verdade, mas sem sair dali, suas pernas eram curtas. Volta e meia olhava-a dando pulinhos, endiabrada. Sua voz rebatia naquele orelhão e se expandia mundo afora. Era engraçado. Todos mereciam estar ali no meu lugar. Eu somente ria dos seus pulinhos. O mercado já estava fechado. Pegar um ônibus pra vir foder deixaria qualquer mulher maluca mesmo, principalmente se não tivesse dinheiro pra voltar. Por fim ela desligou e eu finalmente consegui engatar a segunda frase mais uma vez.
A princípio ela não me viu e ficou olhando pro céu, parecia procurar uma corda. Parei de ler e analisei o que o Ramon 2 havia refugado em cima da hora. Ela realmente era curta. Seu vestuário beirava o colapso. A parte de cima era toda preta, e salientavam umas tetas curtas também. Usava botas até perto do joelho, o que a encurtava mais ainda. Era um pôneizinho prostituto. Foi então que me viu investigando o que Ramon 2 outrora queria, e falou de onde estava mesmo:
– Hei leitor, quer transar por R$ 50,00?
– Prefiro ler. E não tenho R$ 50,00 – respondi.
– Quanto você tem?
Atravessei a rua e fui ao seu encontro. Ela ia diminuindo a cada passo meu. Ramon 2 era a melhor cópia do original. Não sabia o que fazia mesmo.
– Tenho R$ 20,00 reais aqui – falei – mas se eu gastar tudo amanhã não tenho dinheiro pra fumar.
– Quantos cigarros você fuma por dia?
– Depende. Durante a semana em torno de trinta por dia. Final de semana que é dureza.
Ela abriu uma bolsinha curta também, que eu mal tinha percebido. Arrancou um maço de cigarros, fez uma contagem breve e disse que tinha sete cigarros.
– Pois é – eu disse – é pouco.
– Qual seu nome?
– Ramon e o seu?
– Gabriela.
– Onde você mora Gabriela?
– Nem queira saber. Por favor cara, vamos dar uma por R$ 20,00. Olha pra mim, “valo” muito mais que isso.
Virou sua bunda curta, deu uma mexida para me animar. Não me convenceu.
– O que você acha do seguinte Gabriela. Te dou R$ 14,00 pela foda e você me dá os sete cigarros.
– Não. R$ 20,00 é meu preço mínimo.
– Humm…Beleza, vamos trepar. Mas antes me dá esses sete cigarros.
– Posso fumar um?
– Ah Deus. Fica com esses cigarros aí. Vamos lá pra casa.
Fomos conversando pelo beco, me disse sobre o “bolo” que havia tomado e mais alguma coisa sobre amor próprio, nem liguei.
– O que você está lendo Ramon?
– As mesmas frases há meia hora.
– Posso ler um pouco?
– Claro.
Entreguei-lhe o livro. Deu uma olhada na capa. Olhos curtos, boca curta, nariz curto, cabelos longos. Um cheiro formidável diga-se de passagem.
– Nunca li esse Ramon. É sobre o que?
– Me disseram que esse livro é incrível. E pelo que li até agora, parece que alguém morreu e cava valetas.
– Você me parece um pouco bêbado.
– Verdade. Você literalmente é meia puta.
– Como assim meia puta? Sou puta por completo. Desde os meus vinte anos.
– A é?! Também fico um pouco bêbado desde os vinte.
– Quantos anos você tem?
– Vinte e seis, e você?
– Vinte e oito.
– Ainda é uma carreira curta não acha?
– Oito anos já. Quando chegar aos trinta vou parar, quero entrar na universidade. Você mora muito longe?
Entramos pelo portão, passamos por algumas janelas com as luzes acesas, mas acho que ninguém viu ninguém. Abri a porta, fui direto pro quarto. Ela foi ao banheiro. Tinha tudo pra ser uma foda curta, mas pensava comigo que qualquer buceta do mundo valia pelo menos R$ 20,00. Ela saiu do banheiro me perguntando há quanto tempo morava por aqui.
– Quase um mês – respondi.
– O banheiro tá triste – entrando no quarto. O que é aquele limo negro nas paredes? E por que tanto cabelo e fiapos de barba espalhados por lá?
– O limo já estava aí quando cheguei. O resto é meu.
Sentou-se na outra extremidade do colchão, bem longe de mim.
– Não posso trepar por R$ 20,00 Ramon. Me desculpe. É aquela coisa de amor próprio que te falei sabe?! Não é por você. É comigo, não me sinto bem assim.
– Quer R$ 20,00 pra limpar o banheiro? Perguntei.
– Nem pensar.
– Tudo bem Gabriela. Aceita uma bebida?
– Não bebo Ramon.
– Ok. Quer dormir por aqui hoje?
– Algum problema pra você?
– Não. Você é bem pequena. Cabemos os dois facilmente nesse colchão.
– Pode ser. Você tem muitos livros. Já leu todos?
– Nem a metade.
– Posso ler algum?
– Pode. Vou tentar escrever algo aqui enquanto lê.
– Você escreve também?
– Não muito bem. Mas é o que tenho pra fazer agora.
– Qual livro me sugere pra começar?
Passei um de histórias curtas. O que mais poderia combinar com ela? Pela primeira vez minha nova moradia recebia uma prostituta, e ela não fodia por amor próprio. Nem limpava banheiros. Ramon 2 era mais esperto que o original. Se qualquer buceta do mundo valeria pelo menos R$ 20,00, meu pau não valia nem isso. Nem Ramon inteiro valia R$ 20,00, muito menos o banheiro dele. Passou uns dez minutos até voltarmos a conversar. Eu fingia que escrevia, ela fingia que lia.
– Posso te dar uma chupada por R$ 20,00 – ela disse.
Simples assim, todo o amor próprio era negociável.
– Te dou três por uma punheta – retruquei.
– Três não paga um ônibus pra voltar pra casa.
– Deixa pra lá.
– R$ 10,00 por uma boa punheta então.
– Uma boa punheta eu posso tocar de graça. Quero uma ruim mesmo por R$ 3,00.
– Última proposta. Te chupo por R$ 10,00.
– Chupa aqui então.
Veio com sua língua curta e engatou meu pau curto. Chupava muito bem. Eu afundava sua cabeça curta pegando em seus cabelos longos. Qualquer boquete valeria R$ 10,00. Pra não gozar logo e fazer valer todos os trocados, comecei pensar que Gabriela preferia chupar um pau a limpar meio banheiro, e que se eu tivesse só meio pau, talvez economizasse R$ 5,00. E se eu tivesse meio pau e ela só pagasse meio boquete, então seria de graça. Estava bêbado e seriamente transtornado pra ter essas conclusões. Subitamente percebi que ela estava realmente gostando de chupar. Lambia por toda circunferência. Oito anos naquilo haviam lhe feito muito bem. Então pra finalizar a linha de raciocínio mágica, pensei que se eu tivesse meio pau, ela pagasse meio boquete e só usasse metade da língua, então ela ficaria me devendo R$ 5,00. A melhor mente do bairro sem sombra de dúvidas. Levantei sua cabeça, babava toda excitada.
– Vamos foder de graça – falei.
– Não fodo de graça – ela retrucou.
– Então por R$ 20,00 e foda-se seu amor próprio.
Tirou todas suas curtas roupas, deu uma guinada no traseiro e sentou pra valer. Que mamilos curtos! Pentelhos curtos! Nunca tinha visto uma mulher tão curta. Fodia muito bem, mas eu também, até melhor que ela, era a bebida, quando não te derruba e luta ao seu lado é possível ser incrível. Seu gemido? Adivinhem, curtinho. Ela estava adorando tudo aquilo. Eu estava lhe dando uma foda de R$ 100,00 mais encargos. Estreando o colchão, o quarto e a casa com uma bela performance. Isso soava maravilhosamente bem. Pulinhos curtos e firmes, a cada sentada uma moeda.
– Me fode Ramon, fode essa buceta de vinte pila.
– To contigo mulher, to contigo.
Acabou gozando primeiro, uns cinco minutos depois foi minha vez. Acendi um cigarro e valeu cada centavo.
– Ainda posso dormir aqui? Ela perguntou pelada.
– Claro.
– Pode me pagar agora?
– Tem troco pra R$ 50,00?
Ela riu. Dei-lhe R$ 20,00, terminei de fumar e me virei pra dormir. Ela? Um Hilton curto antes de deitar-se.
Muito bom, todos aliás. Ri, reli, vivi o texto. No aguardo do IV.