H1 – Quer saber o que estava pensando antes de me ultrapassar com “tava”?
H2 – Verdade, sua vez.
H1 – Creio que não sou adotado.
H2 – Como assim?
H1 – Meus pais mentiram que sou adotado, mas sou filho deles.
H2 – E por que fariam isso?
H1 – Pra quando o último deles estiver pra morrer, me chamar e dizer: “Filho, você não é adotado”. E morrer.
H2 – Você pode tentar encontrar seus pais biológicos.
H1 – Por isso o plano é perfeito, nunca encontrarei.
H2 – E seus outros parentes?
H1 – Fazem parte do jogo, todos afirmam que sou adotado.
H2 – Se você morrer primeiro que eles, quem ganha o jogo é você.
H1 – Mas daí fazem outro filho e começam de novo.
H2 – Uma vez adotei um galo.
H1 começa a rir compulsivamente. H2 se vira na cadeira e começa observar incrédulo, sem entender. H1 aos poucos vai recuperando o fôlego até ficar normal, ainda de costas para H2.
H2 – O que foi?
H1 – Entendi a piada do telefone.
H2 – Tinha galo na piada?
H1 – Não, mas tinha um lago
H2 – Um lago adotado?
H1 – Não, um lago gago.
H2 – Bom contexto
H1 – O contexto é outro, esse é o final. A piada termina em lago gago.
H2 – As palavras lago gago aparecem juntas na bíblia?
H1 – Não, mas deveriam. João Batista bem que poderia ter batizado Jesus no lago gago. Moisés abrindo o lago gago.
H2 – Conheço um Roberto Carlos gago.
H1 – Cantor?
H2 – Mecânico de bicicleta. Quem são João Batista, Jesus e Moisés?
H1 – Três marujos.
H3 sai com dificuldade pelas cortinas segurando uma TV das pesadas e fazendo sons que indicam dificuldade de carregar. H1 e H2 observam. G está logo atrás segurando o cabo. Eles atravessam o palco e saem.