a cena que se repete
lateja na mente
mais uma vez
enquanto me pego pensando
se vai ser sempre assim
ou se uma ora ou outra
eu sossego? aprendo?
não sei, cada vez mais
tenho certeza
que termino assim
com uma mala pequena
feita às pressas
fumando um cigarro
no ponto observando
o ônibus que vem
trazendo novas estradas
pra mim
Autor: Eduard Traste
sanguessugas na cueca
por que diabos deveria
conter meus instintos suicidas?
esse troço porcaria que nos ensinam
dia a dia só evidencia
demência e pança
e pra mim isso não funciona
porque sou de uma espécie rara
de farsante das palavras
do tipo que se basta
no paraíso da rejeição
barata
enrolando
ele acordou disposto
a não fazer absolutamente nada
e tudo também – parou um instante
enrolou a ponta esquerda
do bigode com o indicador e o polegar
da mão direita
depois, enrolou a ponta direita
com os respectivos dedos da mão
esquerda – como costumava
sempre que acordava
disposto ao que quer que fosse
enrolar
curta duas aranhas na ducha
tô lá tomando banho e a anêmica aranha pendurada na parede toda trouxa torta tonta toda atravessada de toda maneira possível pela teia invisível me encara assim nos olhos perguntando o que lhe deve tal olhar tão curioso e eu nada consigo responder além de uns sopros e uns pingos d’água que a balança e tremelica suas ideias já raquíticas enquanto a vejo assim descendo descendo caindo aos poucos ainda toda cheia de si toda orgulhosa toda dengosa pra morte que chega ou não eu não sei ela simplesmente desce até o chão e se vai com o mijo que solto sobre ela em total estado de gozo e vitória porque naquele momento eu sou eu e ela não é mais nada até que me viro do nada sua mãe as minhas costas do tamanho de um chinelo quarenta e quatro me engole em um grito seco embaixo do chuveiro
molhado
entre o tudo e o nada
um mês sonhando
ébrio apenas escrevendo
em uma cabana
fora
da realidade
e você percebe que
um artista vivendo sua arte
pode muito bem ser um gênio
ou um completo idiota
e isso, bom, isso no fim
não faz
nenhuma diferença,
ao menos não
para ele.
viralatando
com raiva roubei
sua calcinha
e na rua arrependido
que estava
a vesti em uma cadela
que passava por mim
toda displicente
me lembrando muito
você
hum humúnculo
um umbigo
dois dedões
três tripas
quatro queixos
cinco canelas
seis sovacos
sete septos
oito orelhas
nove neurônios
dez dentes
onze olhos
doze dedinhos
treze tendões
quatorze queixos
quinze quilos
dezesseis diagnósticos
dezessete doenças
dezoito discípulos
dezenove depilações
vinte vaginas
– QUERO!
Nepente
perfeição, excelência
oito letras?
me pergunta uma direta
média
enquanto bem alterado
eu a escuto
entre uma nota e outra
de Beethoven
“é assim. depois inicia
novamente”
então ela para
por um momento
“tá errado”
e então coloca
a música
antes de virar pra mim
e perguntar:
“tá ouvindo? deveria
soar assim”
no que respondo que sim
soa divinamente
parecido
quando na verdade
eu mal consigo
escutar sua voz
estou absorto no mar
dos seus olhos
“aí, aqui ó”
perplexo com sua natureza
“atenção, agora presta bem
atenção, por favor”
envolto em sua áurea
eu permaneço mesmo
quando o cigarro
queima meus dedos
e o caminhão do gás
silencia
vossa melodia
os pombos me contaram seu drama
pessonhentas
que não derrubam
migalhentas
um caminhão de lamentações
o caminhão tava com tudo que nóis queria mas ele não chega até aqui
o caminhão tava com tudo que nóis queria mas ele não chega até
o caminhão tava com tudo que nóis queria mas ele não chega
o caminhão tava com tudo que nóis queria mas ele não
o caminhão tava com tudo que nóis queria mas ele
o caminhão tava com tudo que nóis queria mas
o caminhão tava com tudo que nóis queria
o caminhão tava com tudo que nóis
o caminhão tava com tudo que
o caminhão tava com tudo
o caminhão tava com
o caminhão tava
o caminhão
o
..