curta duas aranhas na ducha

tô lá tomando banho e a anêmica aranha pendurada na parede toda trouxa torta tonta toda atravessada de toda maneira possível pela teia invisível me encara assim nos olhos perguntando o que lhe deve tal olhar tão curioso e eu nada consigo responder além de uns sopros e uns pingos d’água que a balança e tremelica suas ideias já raquíticas enquanto a vejo assim descendo descendo caindo aos poucos ainda toda cheia de si toda orgulhosa toda dengosa pra morte que chega ou não eu não sei ela simplesmente desce até o chão e se vai com o mijo que solto sobre ela em total estado de gozo e vitória porque naquele momento eu sou eu e ela não é mais nada até que me viro do nada sua mãe as minhas costas do tamanho de um chinelo quarenta e quatro me engole em um grito seco embaixo do chuveiro

molhado

Nepente

perfeição, excelência
oito letras?
me pergunta uma direta
média
enquanto bem alterado
eu a escuto
entre uma nota e outra
de Beethoven
“é assim. depois inicia
novamente”
então ela para
por um momento
“tá errado”
e então coloca
a música
antes de virar pra mim
e perguntar:
“tá ouvindo? deveria
soar assim”
no que respondo que sim
soa divinamente
parecido
quando na verdade
eu mal consigo
escutar sua voz
estou absorto no mar
dos seus olhos
“aí, aqui ó”
perplexo com sua natureza
“atenção, agora presta bem
atenção, por favor”
envolto em sua áurea
eu permaneço mesmo
quando o cigarro
queima meus dedos
e o caminhão do gás
silencia
vossa melodia

um caminhão de lamentações

o caminhão tava com tudo que nóis queria mas ele não chega até aqui
o caminhão tava com tudo que nóis queria mas ele não chega até
o caminhão tava com tudo que nóis queria mas ele não chega
o caminhão tava com tudo que nóis queria mas ele não
o caminhão tava com tudo que nóis queria mas ele
o caminhão tava com tudo que nóis queria mas
o caminhão tava com tudo que nóis queria
o caminhão tava com tudo que nóis
o caminhão tava com tudo que
o caminhão tava com tudo
o caminhão tava com
o caminhão tava
o caminhão
o
..