Latrina que fura o sinal verde
Alcançando o céu voando pra baixo
Sorrateiro pêndulo canhoto
Que calcula a distância do morcego
Pra sombra da bananeira
Arritmia nos olhos de pedra dura
Tanto bate até que água mole
Seria disso que os pássaros engaiolados tanto cantam?
Perguntaram para a esposa de Einstein:
“Como é acordar ao lado de um gênio?”
E ela respondeu:
“Mas como é que vou saber???”
99,9% das mulheres
Nem se dão conta que,
Dormindo,
Podem matar um homem
Do outro lado do mundo
Autor: Ramon Carlos
O confessionário do bode expiatório
W.C saiu com seu carrinho vermelho cheio de galinhas brancas
Encontrou T.S desolado com a enxada na mão
Cumprimentaram-se apenas com os dedos
E ambos lembraram de como W.W utilizava-os durante a guerra
R.A saiu para comprar pimenta, e viu P.L distraído nas prateleiras de bebida
R.A riu de P.L, que desconfortável disse: “Na dúvida venceremos”
H.I passou mal após o banho, e tomado pela cólera
Desafiou seu irmão para um duelo perante o povo
S.L fez notas lendo o jornal, depois escreveu uma carta ao colunista
Esclarecendo que escreveria um livro sobre ele
O.W gostou da iniciativa, fez um filme, mas de outro jornalista
Demitiu o protagonista por achá-lo demasiadamente parecido com Deus
J.L comprou várias outras ideias de S.L, e quase sem tempo
Lapidou como pôde para pagar seus luxos
C.B saiu com uma japonesa e cozinhou bifes com peras caramelizadas
Depois pegou seu cachorro e foi deitar na praia
Lá, viu H.M com outra japonesa de kimono
Acenou com os pés, mas H.M não viu
Tanto, que montou em sua bicicleta e descascou uma laranja
A.C deitou e rolou na montanha, quando percebeu
S.B estava rolando ao seu lado
Os dois concordaram que cruzes deviam ter rodinhas
E que o perigo é um ato de bondade
A.S pegou sua porca de madeira e enterrou no cemitério
Depois, com um grampo de varal na mão direita
Desafiou os santos a fazerem algo melhor
C.B interveio, afirmou que os deuses não devem ser incomodados
A.S prendeu um grilo no grampo e colocou-o de volta na mala
J.F roubou garrafas de leite porque o mexicano torceu o pé na escada
E apostou todas suas moedas no gatilho mais rápido da liga
A partida nem tinha começado, quando N.R distribuiu notas pela arquibancada
A falecida deu o pontapé inicial, enquanto a grávida salivava pelos de gato
O anjo G.G duvidou que o galo tinha fígado
Montou uma comunidade cheia de mágicos
Desencarnou quando o avião caiu em seu colo
C.D ajeitou os óculos e gritou do seu banco de madeira: “E agora Joseph? A náusea é um paralelepípedo florido”
Adrien fez café e chorou após diários cumprimentos imaginários
G.L foi assassinado por saber onde nasceu
B.F admitiu que não há nada mais curativo que o toque humano
R.C reserva caprichos
P.S.A
Algo está totalmente errado em mim, de alguma forma me aproveito disso
O sol brilha falsamente entre as árvores
Seu calor me traz o frio compacto
Com o mesmo gosto, agora grudado no bigode
Doce como um pingo de vela
Mantenho a morte por perto, porque a vida é inalcançável
Não é bem um caso de amor, nem doença
Como posso dizer, talvez um desvio
No máximo um ritmo diferente
Uma anomalia disforme e pragmática
Poeticamente inválido
Risos sanguinários, falta de ar, peidos suspeitos
Meu tempo é um cadáver exposto
Escrevo o último poema todas as noites
As barbaridades fazem carreata no velório
Resignado, martirizado
Quando a última luz beliscar nossas bundas
Então, poderemos finalmente dormir com a companhia de todos
Ao som dos reféns tocando harpas
Designados a rolar em uma corda bamba
Por vidas e vindas
Feridos são os homens que descansam
desvio de função
aos trilhos
de tinta guache vermelha
ao brilho
das esporras de diamantes
aos trocadilhos
da sucata itinerante
à masturbação
do ópio de centeio
aos dicionários
que escolhem tradução
antes das palavras
há o
desmérito prestígio
há os
fungos na cartola
há
chinelos sujos na escada
momentos antes
de se fazer a barba
Se quero rir, escrevo. Se quero chorar, leio o que escrevo
Vivaldi hoje,
Apareceu quatro vezes aqui em casa
Reclamou tanto da chuva
Que dei-lhe uns trocados
Para um conserto qualquer que precisava fazer
Não sabia se era o platinado
Ou a bobina do fusca que tinha ido pro pau
Maldita sanfona, não para de rasgar!
E tem um tremendo barulhinho, que parece violino
Na caixa de marcha
Sei, sei Valdir. Por que não vende a encrenca?
Porque o passado é só o que tenho
E o que isso tem a ver com esse lixo de rodinha?
Nascemos no mesmo ano
Por não queimar óleo e não vazar gasolina
Era pra estar melhor
Tento cuidar dele
Falo de ti
Ah! Uma vez bebi álcool direto da bomba
Lembro disso, eu que apostei contigo
Nunca pagou
Faltou o gargarejo, parte importante da aposta
Você também não está nenhum Alfa Romeo
Alfa Ramon, Afta Ramon, Alfa Lhado
Continua escrevendo, Alfa Lido?
Aos poucos, Alfa Minto
Como é mesmo aquela frase sua que gosto?
“O inferno são os outros”
Não é essa
“Poetizar a insanidade é como acariciar um gato morto ou morder o próprio olho”
Também não. Fala da solidão
“Os homens mais fortes são os mais solitários”
São mesmo?
Sei lá
Preciso ir à oficina, valeu pela grana Ford Caído
Te vejo amanhã, Vivaldi
Em outra estação
Quando “A solidão é minha parceira, sem ela me sinto sozinho”
Fizer menos sentido
Diante de ti
No mar que palpita os olhos, escarnece a alma
Diante de ti,
Em meio ao véu soturno
Do primeiro sopro cardíaco da manhã
Perpétuo
O cheiro de abacate cortado
Indignas
Roseiras em caules mastigados
Tiranos
Psicopatas em cruzes de orvalho
Diante de ti,
Bigas transportando palhaços invisíveis
Quimeras em estátuas de sal
Maçãs nas teias de aranha
O improvável mausoléu de heranças equívocas
No mar que palpita os olhos, escarnece a alma
Diante de ti,
Godot na corda de Lucky
Sabor dos cachimbos de plástico
Colchões em pé no canto do quarto
O amargo estampido no palato do fantoche
As ruínas nas migalhas de janeiro
Diante de ti,
Sobremesas antes do jantar
Nicotina em doses curativas
Puxadores soltos nos parafusos
Conservas vazias embaixo da pia
No mar que palpita os olhos, escarnece a alma
No mar que palpita os olhos, escarnece a alma
Diante de ti,
Túmulos em poses circenses
Acrobatas no subúrbio animal
Embriaguez em tempos de paz
Baratas mortas dentro dos moletons
Almoços em xícaras de papel
Adiante, adiante, adiante
Elos em crinas de borracha
O improvável mausoléu de heranças equívocas
No mar que palpita os olhos
A planta do céu da boca
Antílopes fumando cigarros de bronze
Cobertores atirados em camas molhadas
Diante de ti, escarnece a alma
Interruptores amarelos como os dentes
Panelas com cabos quebrados
Isqueiros molhados
Pregos de cabeça torta
Azeite na garrafa de vinagre
Vinagre no pote de sal
Sal na boca do fogão
Buraquinhos do chuveiro trancados
Alicate que não abre mais
Diante, diante, diante
De ti
Não adianta
Mais
Haicão
Dormindo num cinzeiro
Nadando sem meia
E ardendo feito o diabo
Fazia azia
Com brasa no conhaque
E desfilava
Como um bode na coleira
Ai de mim pequena!
O céu afrouxou
Feito um nó de forca
Meia-entrada
Meia, meia, meia
Culpa
gentleman
chegou sem calcinha
somente uma saia preta
até o começo da bunda
a parte de cima comportava
uma blusa cinza e cordões indígenas
lhe deu uma bala para amenizar
o bafo dos filtros vermelhos
ela não fumava porque gostava
do sabor natural da sua língua
queria isso dele também
degustar no máximo aftas
da carne de porco
mas com ele, nada era natural
inclusive o sexo sem calcinha
e o papel da bala de menta
a música torturava o compositor
o cheiro de chulé misturava-se
com o das toalhas molhadas
e um bom ar de hortelã
ele pediu desculpas pela barba mal feita
engasgou-se com a bala
foi vomitar vinho
ela agradeceu pelas cartas
alcançou-lhe uma toalha molhada
e foi embora
um mês depois
ela bateu na porta
e ele sorriu
Para Ramon Carlos
Línguas ásperas
De vidro,
Nas etiquetas das sombras virgens por fora
Ilusões são notas musicais caindo dos berços
Pentelho pro gato
Adormece na pólvora dos rins
Em greve, em breve, em verve
Entorpecido em camadas de tecido austero
Embebido no flagelo das pétalas de gelo
Voa o canto direto pro sino
Soa como sombras atropeladas
Deleite! Leite amamentado mentado
Fermentado
Improvisado
Visado e avisado
Os cacos de vidro das línguas
Calíngulas
O poeta morreu enforcado
Nas vírgulas
Triângulo amoroso
Um reboque
Carregando outro reboque
Que estragou
Enquanto carregava
Outro reboque