acordo em pé
sem saber se dormi
segunda, terça, quarta
já não sei nada
e o que importa?
bundinhas redondinhas
pulando as cercanias
peidinhos engolidos
na agonia da casinha
chupadas homéricas
em um começo de férias
o pão de cada dia
no lixo ou na poesia
o que importa?
uma fumaça sobe torta
hedionda e tremida por trás
das sombras abandonadas
pelos cães desolados
enquanto na janela florida
flores florescem florindo
e eu aqui rimando merda
com dejetos suínos
política com poluição
indo dormir agora
porque o cão late
em estrondoso alarde
requisitando seu quintal,
enclave.
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hiato
um charme
em quarto de vidro
espuma verde
que circunda os jeans
do xará dos diabos, no joelho
incapaz variedade de prever
o xamã no ponto clinico
sirene na colmeia dos abutres
louvo-te hiato
louvo pela capacidade que me tens
de purificar minha demência
de persuadir minha clemência
de extorquir meu saldo de observações
louvo pela simples castidade que propõe
impõe, em baldes de mármore
suave como o título lhe traduz
o silêncio que exterioriza meu sorriso em carne viva
sensato, sensato, sem tato
clamo a ti
a impureza
de um novo impacto
intacto
poeta merreca
ela me chamou de merreca de poeta
um poeta que só pensa em perereca
e hoje percebo que ela estava certa
vivendo na merreca, comendo perereca
mas não a sua merreca de perereca
eu agradeço, sendo o poeta merreca
que sou.
Girino
Estradas pintadas com fibras de gelo
Escorrendo em tromboses simbióticas
Entre trombetas perpendiculares menores que um grão de amnésia
Uma geração que parece sêmen de neném
Incapaz de cagar pelo menos meio quilo por dia
Naufragados e sedutores
Fomos pegos pelas ancas
E gememos em sincronia
Na batida do diagnóstico atemporal
Pobres criaturas com pingos de giz
Silhuetas sem contorno atravessando corações
Como flechas de aspirina
Perguntaram para um homem:
“O que é sexo oral?”
“De hora em hora”
“E sexo anal?”
“De ano em ano”
O produto, o viaduto, a vida em espera
Data definida
Morrer é mais lucrativo que viver
Agonizar é luxo
Um tiro na cabeça é moda
Uma corda no pescoço é ultraje
Caminhamos como um curupira tonto
Para um fim ou para um começo?
É preciso antes acreditar no homem
Para depois acreditar na política
É preciso desconfiar muito de Deus
Para ir à igreja;
Temo por essa coceira
Invasiva e invisível
Expulsando
Depois congelando
Serei um coito coitado
Um tipo ejaculado na boca do jacaré
Essa coceira, essa coceira
Já me vejo usando guarda-chuva
Em dias de sol
Pior
Já me vejo tendo um guarda-chuva
Perverso
Perverso é o soluço
Que some após estabilizar o ritmo
Soluços e coceira
Perpétuos
Prisões fazem homens chorar
A bebida também
E os crocodilos choram com água na boca
E as mulheres porque soluçam e se coçam
Mais que um bêbado na feira de pulgas
Por isso temo
Essa coceira, essa coceira
Tenho vergões
Preocupo-me
Não quero me tornar um servidor
Que precisa da arte para se redimir
Kafka soube disso
Tornou-se grilo pra respirar
Coço, coço, soluço
Ainda tenho tempo
Ainda….
a verdadeira tragédia
e o mundo vai ficando
suportável. problema mesmo:
acostumar-se.
vivas criaturas
no ônibus,
você escuta a conversa
e acha aceitável.
dois seres autênticos
um assunto
plausível
um ponto de vista
interessante
e então você se vira
e confirma: os pés ainda
não alcançam
ao chão.
Dormente
Sou dormente
Em dor e mente
A dor mente
Não mente?!
Meu DNA é um músculo
Na bituca do cigarro
O bem-te-vi morreu amarelo
De cabeça pra baixo
O lagarto tinha papo
Mas correu sozinho
Ela esbravejou:
“Vim dar pra ti, e ao invés disso, me faz amar novamente meu marido?!”
Respondi:
“É o que crianças fazem”
Adormeci
Porque gosto
Acordei porque não gosto
O lagarto não comeu o bem-te-vi
Acho que não gosta
De criaturas mortas
Contei os segundos de uma hora
E molhei os pés
Levaram o varal que tanto não fazia falta
Bob ficou louco e sumiu enterrado no quintal
De tanto fumar a língua engrossou
Vontade, sempre, de morder o cigarro até o fim
Em um tempo eu tive cabelos compridos e barba saliente
Certo dia minha mãe disse que eu parecia Jesus Cristo daquele jeito
Decidi cortar tudo e perguntar à ela com quem parecia agora
Ela respondeu: “Com alguém decente”.
– Já me traiu?
– Isso não é pergunta que se faça segundos antes da morte mulher?
– Dependendo a resposta estamos perto de uma.
– Nunca traí você meu amor.
E ela cravou uma faca no peito dele e sussurrou em seu ouvido:
– É por isso que sangra. Sua fidelidade me enoja.
Contei os segundos de uma hora
E molhei os pés
Antigamente eu tinha a mania de me achar um merda e falar pros outros
Agora não conto pra mais ninguém
Porque eu somado com a vida daria um grande zero
Maior que o rego da gorda Elizabeth, uma viciada em paus moles
Literatura é uma arte complicada porque exige esforço para ser digerida
Ela abriu a carteira e conferiu duas camisinhas velhas. Uma semana depois ela abriu novamente e só tinha uma camisinha velha.
– Ei mulher, alguém roubou uma camisinha minha – ele disse.
– Com a buceta? Ela perguntou e fechou a carteira
Um bom livro precisa de uma boa doença
– Por que eu sempre encontro os melhores homens tarde demais?
– Os melhores homens vivem escondidos.
– E por que eles vivem escondidos?
– Por serem os melhores.
Beber ou trepar? Beber
Beber ou escrever? Beber
Beber ou comer? Beber
Alguma coisa mais importante que beber?
Dormir
Dormir ou trepar? Trepar
Contei os segundos de uma hora
Foi o máximo que consegui
declamação: grato, Srta. D.
grato, Srta. D. – Eduard Traste
declamado por Heidi Capuzzo
adicto
não posso ver
um grelo
s a l t i t a n t e
que já preciso ir
s a l t i t a n d o
junto.
Atroapelamento
– Então amor, vai aceitar o valor?
– Quanto você quer mesmo? Perguntei.
– Tenho outra proposta. Por R$ 800,00 passo a noite inteira contigo.
– Se eu pagasse R$ 800,00 teria que ir trabalhar no meu lugar.
– Onde trabalha? O que você faz?
– Sou padre.
– Então R$ 350,00 por uma hora. Fechamos?
– Nada disso.
– Quanto quer pagar? Assim como as Casas Bahia.
– Se você fosse como as Casas Bahia eu faria cem prestações de R$ 4,00.
– R$ 400,00?! Rs,rs,rs.
– Juros.
– Enrolão. R$ 350,00 vai querer?
– Não.
– Então para de me amolar. Já é a quinta vez que liga. Eu hein!
– Desculpa. Sabe o que o tomate foi fazer no banco?
– Tirar o extrato. Pff.
– Sabe qual o maior osso do corpo humano?
– Qual?
– A melancolia.
– Tchau.
“Cadê? Onde tá o maldito papel?”
Livros, papéis, camisinhas, migalhas
Decolam da gaveta e caem sobre o chão
“Onde eu enfiei o maldito papel?”
Fecha-se a gaveta, abre-se outra
“Acho que eu não colocaria nessa”
Cuecas, meias, luvas quentes
Tudo caindo
Uma naftalina rola na gaveta quase vazia
“Maldição! Devo ter colocado naquela”
A certidão de nascimento, contas pagas, uma carta perfumada
Pousam num movimento circense
No fundo da gaveta, um papel deitado de costas
“Deve ser aquele”
Apanha o papel, vira-o de frente
Escrito: “Carol, Célia e Bebel acompanhantes. Agende seu horário por telefone”
Senta, enche o copo novamente, marcado com uma borda bordô
Vinho tinto, seco de mesa, barato, vem sem rolha
TUTTUTTUTTUTTUTTUTTUTTUT. O telefone chama
“Olá, boa noite”
“Quero uma”
“Ok meu amor, aqui é a Carol, estou de saída mas passarei a ligação para a Célia”
“Ta”
Toma um gole
“Oi meu amor, tudo bem?”
“Célia, você tem um nome de velha, isso é lindo, desde que seja velha”
“Mas não sou velha”
“…Então acho que a insultei”
“Que nada meu amor, quer minha companhia hoje?”
“Quero. Quanto gastarei?”
“Cem reais uma hora, cento e cinquenta com anal”
Pensa um pouco
“Quero uma hora só de cu”
“Não! O anal só vai no pacote completo. Cento e cinquenta reais”
“Só tenho cinquenta. Onde estão as putas baratas?”
“Olha só companheiro, se quer uma puta barata espera a Bebel voltar, ok?”
“Bebel? Bebel quer beber? Bebel quer bilau? Ou Bebel quer um pano de seda pra passar na xana?”
“Você tem algum problema idiota? Bateu a cabeça quando era pequeno?”
“Não. Só estou com medo”
– R$ 30,00 completo.
– Maravilha.
– Siga-me. Vai querer completo?
– Sem ervilha.
– Não sou cachorro-quente, mas, caso queira uma salsicha recomendo a mulher certa.
– Prefiro pizza sem ervilha.
– Com calabresa?
– Você está me fazendo perder a vontade.
– Pensei que estávamos aliviando a tensão.
– Ok. Sabe o que o tomate foi fazer no banco?
– O quê?
– Cachorro-quente.
– É nessa porta, pode entrar primeiro.
– Só mais uma pergunta: “Sabe qual o maior osso do corpo humano?”
– Não sei. Qual é?
– O fêmur.
– Onde fica esse osso?
– Na cabeça.
– Estúpido. Eu sei que o fêmur fica na perna. Acha que sou idiota?
– De jeito nenhum.
– Completo sem ervilha então?!
