insetos memoráveis

deixei de recolher as latas e garrafas
espalhadas pela casa
queria ter uma noção visual
do que tenho me tornado
– além do espelho, naturalmente
então a torre bem aqui do meu lado
começou a crescer. bem, na verdade
ela continua aqui e subindo
dia após dia a torre vai se tornando
uma muralha que circunda o sofá
a mesa de centro
os livros e até mesmo
os insetos voando em círculos
perfeitos
estão por todo lado,
entre latas de cerveja, garrafas de vodka
gimbas de cigarro, meias sujas
sapatos furados, pratos abandonados
copos esquecidos
e isso tem só duas semanas
e quer saber? eu gosto!
gosto do visual, da mistura
verde e vermelha das latas
das garrafas transparentes
dos camelos amarelos
bêbados, e até mesmo do cheiro
que permeia no ar, entre
a dança esquizofrênica dos insetos
alcoolizados, sim, sim
o frenesi é contagiante,
eu gosto

– grande merda. é só pra atrair moscas
e outros insetos idiotas – comenta o traste
que veio me visitar hoje

ele não sabe que já os conheço
não sabe que os recebo todas às noites
os maravilhosos insetos
que não falam a manjada língua
das criaturas corriqueiras
ah, ele mal sabe
que já não lembro seu nome
e que jamais esquecerei
de Athos, Porthos e Aramis
os três mosquitos mais corajosos
que já conheci.

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