Cancelei nosso reencontro,
ao optar em não acreditar.
Adiantei nosso adeus,
ao não saber me despedir.
Ainda pego-me embebedado em suas lembranças,
com o gosto do açúcar empapuçado no mais puro álcool qual você me servia na colher que misturava sua bebida.
Consigo claramente lembrar das cartas da nossa última partida,
Às de copas, cavalo de espada e rei de ouro,
mas seu rosto aos poucos está sumindo,
dissipando como a fumaça,
que os pingos de gordura provocavam na brasa nos seus inesquecíveis churrascos de domingo.
Ontem as 5 acordei com um som,
parecia seu velho rádio anunciado as primeiras canções do dia.
Era nosso despertados das manhãs de domingo.
Tentei fechar os olhos e voltar a dormir,
mas ouvia claramente seus sorrisos soltos
e suas blasfêmias Ítalo-brasileiras,
que para mim,
ecoavam como a mais linda melodia nostálgica que poderia existir.
Naquele mesmo dia preparei para o café
a velha receita que ensinou.
Dois limões,
Duas colher de açúcar,
Complete o copo com alambique até a borda.
Segurei aquele copo por minutos em minhas mãos,
apenas sentindo, respirando aquela mistura de aromas que lembrava seu hálito naquelas manhas.
Covarde que sou não quis dar nenhum gole,
apenas raspei a colher no fundo do copo,
pegando todo o açúcar ainda não dissolvido, e coloquei em minha boca.
Senti um breve amortecer em meus lábios,
lábios esses que não tiveram coragem de beijar seu rosto em sua despedida e falar um último eu te amo.
Ouvi de um amigo que morremos duas vezes,
quando efetivamente ocorre nossa morte e quando a última pessoa que ainda lembra de você vier a morrer.
Assim carrego sua lembrança em mim,
e o mantenho vivo enquanto respirar ou até minha mente desajustada funcionar.