Um amigo e o velho cão

Como um velho cão

que espera ansioso seus biscoitos de recompensa

por não sujar o tapete da sala,

ele espera o dia certo da semana

para ingerir suas gotas de alegria paliativa.

A expressão, uma vida de cão nunca pareceu fazer tanto sentido nesse momento,

exceto pela racionalidade,

já que pra ele,

o velho cão possui mais momentos racionais a muito tempo.

Nessa tarde quente ele me ligou,

e pediu quantas pessoas realmente felizes eu conhecia.

Não pude responder,

até por que vejo muitas pessoas sorrindo,

mas parecem mais como bonecos de ventríloquos que mostram seus dentes para provar que ainda possuem forças de ao menos abrir a boca.

Marcamos então de nos encontrar na praça central.

Ao chegar o vi observando um jovem adulto embriagado, dormindo com a companhia do sol.

Ele volta a me perguntar,

quantas pessoas realmente felizes você conhece?

Ficamos em silêncio enquanto observamos aquele homem abrir apenas um de seus olhos, entornar mais um gole de sua bebida, sorrir e voltar a dormir.

É estranho explicar,

mas foi como um ato poético,

com toda carga emocional e dramática que aquela cena proporciona.

Esse homem parece feliz, comento.

Quem sabe responde ele,

pingando algumas gotas de um calmante na mão e lambendo cada uma como fossem as últimas gostas de esperança que o fazem sair da cama toda manha.

Então me pergunta,

sabe qual a diferença minha para aquele homem embriagado ali?

Não, não sei.

É por que o sol não faz bem para minha pele.

Esbocei um sorriso e então lhe agradeço,

faziam alguns dias que nada me fazia sorrir.

Ele se levanta,

diz que tem uma longa caminhada,

e se despede.

Então eu lhe pergunto,

quantas pessoas realmente felizes você conhece?

Tirando o rapaz deitado ao sol que acabei de conhecer?

Sim!

Nenhuma, exceto meu velho cão em dias de recompensa.

Vejo ele se afastando aos poucos e penso,

tomara que o tapete da sala esteja limpo,

seria muito injusto aquele velho cão, já cansado da rotina diária não receber seus biscoitos hoje.

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