de bolsos furados
e bolas de fora
perdi meus pecados
e lá
se foram eles rolando
morro
a
b
a
i
x
o
sumindo de vista
como se amanhã não fossem
retornar feito milagre
do Poderoso
direto
aos meus bolsos
de bolsos furados
e bolas de fora
perdi meus pecados
e lá
se foram eles rolando
morro
a
b
a
i
x
o
sumindo de vista
como se amanhã não fossem
retornar feito milagre
do Poderoso
direto
aos meus bolsos
curta duas aranhas na ducha – por Eduard Traste
Declamado por Heidi Capuzzo
Sonhando
Em ser cavalo
Comprou
Uma escada
sempre subo
no chuveiro e dou uma mijadinha
de leve enquanto ele toma banho
coisa quente e fina – ele nunca notou, inclusive
acha bonito eu ali parado
e ri feito um tolo quando faço nada sou só graça
mas quando estou com fome
e com o Diabo no corpo
feito hoje é que mijo pra todo lado
um mijo bem gelado
seu miserável..
não sei
se é pelo planeta
ou pelo Capeta
eu não sei
realmente
não sei
mas eu reciclo
ainda assim
e você
deveria pensar
sobre isso
ou ao menos
reciclar
seu lixo
Na 17ª Edição da Revista LiteraLivre, Eduard Traste participa com o poema “feito um peixe morto“.
Gorjeando submerso na lava
Emergindo numa cápsula transcendental
E pairando em ponto morto
Passando assando
Com brasas no distintivo
Maquiabéblico
Entranhas para metamorfoses em tranhas
Ai de mim pequena!
A ribalta pegou fogo
E não posso correr
Sem antes
Queimar
Meu figurino
Uivando numa grota
Voando sem pelo
E caindo feito um arranjo
Indo rindo
Com piadas na coleira
Ar de anjo
Enterrando borboletas no útero
Ai de mim pequena!
O acordo acordou
A corda, a corda, acorda
Viu meu nó vil?
Viu meu nó,
Viu?!
Formas em fôrmas, reformas
Encurralados, não como o lobo –
Soberbo, mostra os dentes
Numa posição plástica e avassaladora –
Mas como as galinhas
Que mesmo em seu maior desespero
Ainda tentam encontrar uma fuga
Ramon, já te disse, a merda sempre procura o cu
Verdade, verdade
Atritos em novelos de sangue
Salmo 40! Salmo 40! Ah! Ah!
Quase todo dia, indo trabalhar
Passo por um homem que tem um olho de vidro
Às vezes com tapa olho, às vezes olho e vidro
Quando encontro-o
Miro em seu olho olho com meus dois
Mas os movimentos dele são muito rápidos
Um olho que vale por dez
Acabo continuando meu trajeto
Pensando em Édipo
Se só tivesse matado o pai e não casado com a mãe
Se só tivesse casado com a mãe e não matado o pai
Arrancaria somente um olho?
Se sim, teria se tornado o patrono dos piratas?
Poderia crer ser o ato obra do acaso
E manter as órbitas na cabeça?
Empresta dois reais
Empresta cinco reais
O que bebeu ontem?
Arquétipo
Borbulha uma figura na retina
A sorte é um azar do azar
Reza a lenda
Que perdeu o olho
Numa partida de bilhar
ela já havia me dado
umas boas olhadas
mora no 203 e eu no 101
e naquele dia eu estava doido
diferente de todos os outros
o carteiro perdido diria
hoje eu queria e queria mesmo
então na cama depois de começar
a tocar uma bem despretensiosa
me peguei pensando nela
e em como gostaria de
simplesmente ligar e ordenar
– venha! – como eu sempre gosto
de fazer no começo
até ela perceber o quanto sou
um cara legal – apesar dos pesares
então resolvi, saltei da cama
fui pelado pro interfone
respiração ofegante
com tudo pronto nas cabeças
e chamou pela primeira vez
enquanto continuava tocando
respirando feito um urso
imaginando como ela ajoelharia
obvio que não cogitei ela não dizer
“ok, estou pronta e descendo”
e não estou sendo machista
estou apenas sendo honesto
com minhas fantasias
assim esperando no interfone
batendo com ainda mais força
a segunda vez tocou
e me peguei pensando se primeiro
foderia seu cu ou sua garganta
na verdade não estava pensando muito
todo sangue na cabeça certa
imaginado ela sentando
com aquela raba bem desenhada
rebolando provocativa enquanto
não a pego de jeito
mas toca pela terceira e pela
quarta vez o interfone e
ninguém atende
sorte minha
no fim
é que ao terminar o poema
e desligar o interfone
GOZEI!