Começa um novo ano
E você pode estar deitado na areia da praia
Masturbando-se em um banheiro de pizzaria
Bêbado em uma cancha de bocha
Enfiando o dedo no rabo da modelo capa da Vogue
Sentado embaixo da ponte, chorando, rezando ou cortejando um sapo
Deitada ao lado do seu amor colegial, banal, conjugal, apoteótico
Chupando o pau do artilheiro da série C
Contando mentiras, vantagens, verdades, ou deleitando o vestido amarrotado da rainha do baile
Acenando para alguém que nunca viu
Suspensa nas costas do guarda-vidas transferido por méritos
Abraçando familiares enquanto peida loucamente
Começa um novo ano
E as promessas, e os desejos, e a aflição, e a monotonia
E os gritos, os baratos, o sono, a realeza, a confirmação
Há algo que sempre nos relembra
Há algo que permeia todos nossos dias
Que dificilmente nos damos conta
Que nos define em passado, presente e futuro:
O gosto na boca
Ao acordar, ao dormir, ao cantar, ao silenciar
O gosto na boca que não muda
O gosto que sinto
Enquanto escrevo esse poema
Quando tiro os sapatos
Quando quebro um copo
Quando conto uma piada
Quando transo, bebo, fumo, corto as unhas
Quando por ocasião, revivo, repito, refaço
O gosto na boca é minha identidade
Preservado no gargarejo
De todo santo dia