Aluga-se grátis
Brilho ativo
A sambiqueira tornou-se souvenir
Na boca da rainha de copas
Metabolismo de avestruz
A desmanchar mel no canto da boca
Aleluia no gelo, Aleluia na porta do quarto
Sublime rasante enfeitando e enfeitiçando
Uma sala de ostras hipnotizadas
Lá de fora o uivo e o canto do vento sempre a destacar
O som das calhas soltas pelos uivos e pelos cantos
Horizonte espremido verticalmente
Logo acima do rodapé
Pela ausência de blefes genuínos
Ergo o copo cheio de vinho
E proponho um brinde:
“Bom, estarei lá
Daqui um minuto
Será a mesma coisa
Eu estive lá
Vinte anos atrás
E foi a mesma coisa
Estou lá
Agora
Mesma coisa
Será possível não estar?”
Eles me ignoram
E dizem que,
Recentemente um poeta grisalho e viúvo
Costumava passar gritando por aquelas ruas todos os dias:
“Eu escrevi o poema mais sincero do mundo”
E corria com a folha de papel até cansar
Depois acendia um cigarro
E queimava as palavras mais sinceras do mundo
Perguntei se ele ainda fazia isso
Mas o velho poeta havia cometido suicídio
Dentro do banheiro, e ninguém nunca se atreveu
Procurar uma cópia do tal poema
Falei que iria lá depois de terminar o próximo copo
Ignoraram-me
Caminhei por uma quadra inteira
Até encontrar a casa, cheia de arbustos até a entrada
O cheiro, o silêncio, as cores, tudo neutro
Vasculhei algumas gavetas
Prateleiras, revirei alguns livros
Até achar um caderno surrado e um lápis
Por baixo de uma coleção de cartões postais
Folheei todas as páginas
E em torno de trinta delas estava escrito:
“Eu escrevi o poema mais sincero do mundo”
Algumas estavam em branco, e dava pra ver
Que muitas haviam sido arrancadas
Peguei o lápis e fui até o local da morte
Escrevi na parede branca
“Olhei pela janela do banheiro
Alguém estendia calcinhas
Outro paparicava o papagaio
A moto não pegava de jeito nenhum
O muro foi pichado novamente
Fechei a janela
Abri o chuveiro
E com o sabonete
Rabisquei meu nome no vidro
Pois entendi que essa janela
É um poema que posso lê-lo
De formas diferentes todos os dias
E encerrá-lo quando quiser
Só depende do movimento dos meus olhos
E de um movimento de mão”
Espero
Que se alguém for lá
Procurar o poema mais sincero do mundo
Não pense que foi isso que ele tanto escondeu