Ela limpa suas escadas
Como quem enverniza o Sol
Ou escreve de trás pra frente
Com grafite na língua
Seu pijama por dentro das meias de lã
Inspira o inverno a doer sem culpa
As árvores negras de papelão
Soltam folhas de baixo para cima
Subindo como penas em travesseiros molhados
Se a Lua vem da Ásia, em Campos
Aqui ela jorra escarlate nas pontas dos cabelos
E ninguém pisa sem anunciar os pés
Segura seu bebê alugado
Para que ele trepide junto com a rua
Nessa aquarela barulhenta cheia de anjos sem cores
Escondo-me atrás da cortina
Empunhando um copo de whisky com coca, meu bebê alugado
Acabei de comprar trinta ovos brancos por 7,99
E recebi a notícia que um conhecido matou-se enforcado e sentado
A vida insiste em ficar por perto