Magnitude

Sangue talassêmico
Os cabelos brancos de Virgínia
Enquanto estende as roupas, cantarolando
Feito pássaro de madrugada, fazendo ninho dentro do túnel
Aves de peitos luminosos, como se tivessem sido pintadas
Por Rafael, no intervalo das Madonas
Esquinas de um corpo esfarelado em diamantes
Faíscas que verberam entre as frestas dos seus olhos
Antíteses selando um acordo efêmero
Natural como cobras nadando em leite materno
“Rafael tem algum quadro assim?”
Uma dose de sangue talassêmico com gás
A noite risca fósforos no crepúsculo
As estrelas acendem cigarros quando morrem
Virgínia ri enquanto prende os cabelos
Seios rijos como a ponta de um prego
Ela desenha sua imagem no espelho
Pergunta quando os fiapos brancos pararão de nascer
Lembra da lua de dias atrás
“Parecia uma boneca contando piadas”
Lembra da chuva em seu colo ontem
“Tempestade anônima sem gás”
Veste-se com a etiqueta de Versailles
Suspira ao ouvir o piano do vizinho
Mas ele não sabe tocar porra nenhuma
“Só belisca ternos de gesso”
Vai fritar ovos, conta piadas
Boneca em órbita, placebo de Vênus

Vou até a janela hoje, a luz do seu quarto está apagada
Risco um fósforo, acendo um cigarro
Observo a noite
E não morro, tal qual
As estrelas

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