Terceiro ato – Fúria em pedaços
Cenário – um quarto no centro do palco, bem mobiliado. Uma narradora fica ao lado do quarto narrando para a plateia e vendo os acontecimentos.
Personagens – Vander, Salete e narradora que reage aos acontecimentos.
Luzes se acendem com narradora virada para plateia e Salete sentada na cama.
Narradora
Vander abriu a porta bruscamente, com um revólver em punho, e viu Salete sentada em um canto da cama, só de calcinha e sutiã, fumando um cigarro, com as pernas cruzadas.
Narradora se volta para a cena.
Vander entra no quarto ofegante, com passos leves.
Vander
– Hoje eu pego ele, sua puta!
Salete
– Do que você está falando, seu animal?
Salete descruza as pernas e traga o cigarro
Vander
– Fica quieta!
Vander vai andando pelo quarto de mansinho
Narradora voltando atenção para à plateia
Ele deu uma olhada por todo quarto, e foi se aproximando da cama calmamente. Procurou alguma marca marrom, vermelha ou gosmenta nos lençóis brancos amassados, deu uma cheirada, mas o odor era tranquilamente agradável, vestígios latentes. Ela continuava tragando, com a paciência dos lagartos no inverno.
Narradora volta a olhar para a cena.
Vander mexe nos lençóis, cheira, revira novamente. Salete observa-o
Vander
– Não foi na cama né, sua piranha! Onde vocês treparam?
Salete
– Vai te foder!
Narradora continuando olhando para a cena, meio curiosa, tentando enxergar melhor o que acontecia
Vander analisava o ambiente, mas não encontrava nada suspeito. O quarto era enorme, talvez eles tivessem transado em pé, sem encostar em nada. Resvalou os olhos pro chão, como quem procura moedas, mas nada, nem marcas, nem pegadas, nem um mínimo fluído, somente uma formiga atordoada e medrosa.
Vander se abaixa, cutuca a suposta formiga com o cano do revólver. Levanta e vai até a janela aberta, mete a cara pra fora e olha para os dois lados. A narradora entra no quarto, se abaixa e pega a suposta formiga e leva-a para fora do quarto, abaixando-se e soltando-a em segurança. Narradora volta a olhar para a cena.