Peça uma peça ( XXIII )

Narradora para a plateia

Nesse instante as portas do guarda-roupas se abrem, se arregaçam, e um homem negro oportunista pula de dentro com as roupas nas mãos, dando início a um pique velocista em direção à porta do quarto, para, em sua cabeça, alcançar a porta da cozinha, pular um muro de dois metros, e correr nu por uns trinta minutos até sua casa, e nunca mais arriscaria comer alguém, quem sabe até viraria padre, ajudaria os necessitados com todo seu dinheiro guardado, largaria sua profissão entediante, seria uma alma pura, ligaria para a mãe, iria até o túmulo de seu pai, deixaria rosas e sorrisos arrependidos. Os órfãos! Claro! Se tudo desse certo, a partir daquele dia, um novo santo seria canonizado por entre as terras marginais.

Narradora se volta pra cena.

Homem pula do guarda-roupas, iniciando uma corrida para fora do quarto em direção à plateia. Vander mira e da dois tiros nas costas do homem que cai morto.   

A narradora se joga no chão.

Vander e Salete se jogam de costas em cima da cama gargalhando. Rolando nos lençóis, sem pararem de rir.

Vander em meio as gargalhadas

– Eu falei que ele ia cair nessa!!!

Salete

– Porra Vander! Tu é o melhor ator do mundo!

Ambos continuam rindo e secam as lágrimas com os lençóis.

Narradora vai até o homem e constata que está morto. Volta ao seu lugar, olhando só com um olho o que acontece no quarto.

Vander

– Viu a carinha dele Salete?

Salete

– Coitadinho. Depois de trepar por meia hora, ainda tinha fôlego pra correr uma maratona.

Ambos gargalham novamente.

Salete

– Vander, nossas dramatizações estão ficando cada vez melhores!

Vander

– É tão engraçado ver um pinguinho de esperança quando se sabe que não existe.

Salete

– Eu gosto de sexo, você de matar se divertindo. Hoje pensei que não viria mais! A verdade é que ele era muito bom de pica. Só por hoje queria que demorasse mais uma meia hora. Por Deus, quase desisti de matá-lo.

Vander

– Sempre matarei os que comem minha irmãzinha.

Salete

– Você me comeu.

Vander

– Mas não me diverti. A diversão é a porra dos loucos.

Salete acende um cigarro, Vander coloca a arma em cima da cama e vai até a janela dar uma olhada.

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