Não alcanço meus pés
Mas vejo as unhas todas tortas
E grandes
E sujas
As veias roxas em trânsito parado
E tortas, e grandes e sujas
Por onde andei?
Alguns pelos em dedos nem existem mais
Outros queimados com suas pontas da cor
De cabelos de anjos
E formatos também distorcidos
E grandes
E limpos
Os calos despojados em arquipélagos
Da mesma cor das unhas, e de pelos queimados, e de cabelos de anjos
E do colchão que os absorve, da cortina que os esconde
Da cama em trânsito parado
Por onde andei?
Meu calcanhar de Aquiles é o tendão dessas palavras
E meu cabelo, meu travesseiro, minhas caixas de livros
Meu cabideiro, minhas bitucas, minhas batatas
Meu óleo, meu sapato, meus grampos
Meu vinho branco, minha merda, minha sopa
E, enfim, meu vômito, e minha inconsistente fantasia em permanecer aqui
Feito mostarda, travesseiros, ou simples gotas
De calha enferrujada, água de macarrão, água sanitária em camisetas amarelas
Faço a barba, meus pés adormecem pelo tempo parado