Sonho de um boicote de verão

Ruas alagadas
Tijolos arremessados contra as janelas dos orfanatos
Fina passagem, jardins nas descargas dos hóspedes
É um capricho secar as orelhas
Absolutos abandonados na teia de emergência
O ônibus atolou na porta de casa
Fiquei sabendo que roubaram um rim no Paraguai
Mas foi o típico momento de sabedoria altruísta
Bernini erotizou o pecado
É por isso que o mármore brilha molhado
Tenho pés em chamas
Meus cabelos crescem tão rápido
Que o calendário menstrua em duas luas
Sentado, com o peito suado
Ouço barulho dos talheres chocando-se
Ela canta uma canção que desconheço enquanto trabalha
Descarga na terceira janela do andar de cima
Já vi a antiga moradora de biquíni ali
Passando um creme amarelado nas pernas
Apareci de relance no espelho
Voltando do mercado com duas sacolas
Ela fez um biquinho no exato momento
Altruísta?!
Nesse dia paguei o aluguel adiantado
Bebi as sacolas
Ouvi em bom som pela janela sua conversa com a mãe pelo telefone
Que o tempo iria melhorar
A matrícula estava paga
E Reginaldo havia lhe dado um anel
Depois, enquanto eu tentava dormir
Ela dançava com Bernini
Ricocheteando seu gozo
Parei de respirar
E nunca mais a vi

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