vítimagrela
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centrípeto
o que esperam da poesia
aqueles que ainda hoje
feito galinhas hipnotizadas
seguem linhas estipuladas
pelo poeta das coordenadas?
quem poderia por mim pensar
melhor maneira de se expressar?
porque eu deveria então hoje
continuar seguindo o perdido
cantando na corte de Frederico
que nem se quer era o primeiro?
porque encaixar minhas ideias
em uma forma estabelecida?
talhar da natureza sua beleza?
não tenho dúvidas só certezas
de que formas ou coordenadas
honestamente, pouco ou nada
me importa.
Minerva
Escrevo sobre desorientações
Do velho homem sentado no ponto de ônibus
Sem se dar conta que João carrega mais barro no bico
Do que ele nas botas
O gato na varanda do terceiro andar
Com menos medo da água do que a transeunte maquiada
Guarda-chuva maior que a bolsa, cabo de fora
Da lâmpada sempre acesa
Da mulher andando em círculos na sacada
Frenética, de dez em dez minutos sai, caminha, entra no apartamento
Escrevo sobre desorientações
Com uma agulha na ponta da cabeça
Atraindo o calor
Falo em mosquitos na trilha de um peido
Da sensação endócrina de morrer
Fraturas impostas por figuras expostas
Segundas respostas
Amostras
As botas brilhantes do velho homem não assustam João
cantiga ilegal
uni, duni, tê
ela vai tirar o bêbe
e nem vai precisar
morrer.
Doses
Anorexia mental
Em um cérebro gordo
Paradoxo invertebrado
Com cheiro de bolhas vertebradas
O caos precede o caos
A morte precede a morte
Gritos em cortes
Pérolas do abismo surdo
Prefiro ajudar com minha distância
E invisibilidade
Mas acabo visto
Dentro de um órgão
Transplantado telepaticamente
Para fora de mim
Eu precedo o caos
Eu precedo a morte
Eu precedo eu
Em você
receita de bomba caseira
deixe de trepar
deixe de se masturbar
deixe de fumar
deixe de beber
deixe de reclamar
alimente-se mal /
mal se alimente
– tanto faz? tente!
durma pouco
e tome muito café,
ou cuidado.
repetir até
explodir.
certo
sinto o cheiro do mar coagulado
emoldurado, latente
latejando esporadicamente em ondas
porém, barrado volta
sem ondas
sinto o cheiro do mar coagulado
que se doce fosse, não caberia em mim
escorreria em letargia
sinto o cheiro das vísceras entupidas
grosso veneno que sobra
quando o escárnio é mórbido
o moribundo se fortalece e morre
mais de uma vez
megera situação
um canibal comendo o leproso
sinto o cheiro do fogo que habita
brando, breve e misto
mas vibra, pinta
incendeia o tributo ao nada
extirpa anomalias da guerra cíclica
sinto o cheiro do fogo que habita!
sinta também, sinta agora!
imagine essas palavras como brasa
queime, goze, e foda-se
ein? ein? ein? ein?!
é…
improvável coincidência
mas ele voltará
brando, breve e misto
não perca a carona
sinto o cheiro daquele desenho dourado
sem peso, sem moda, sem forma
fede dentro do plástico
corruptamente altruísta sem lei
é o peso de uma balança no escuro
vaidade pra colorir
crime pra servir
outrem ou trem?
sinto que cheguei perto
do que?
PE: Revista Subversa | vol. 7 | núm. 01
resumo de vida
encontrei um telefone
tocando no meio do nada
quando atendi, desligaram
era engano.
