levantei e lavei o rosto
pela primeira vez desde que morri
abri minha primeira garrafa de RUM
e na morte me servi
de uma bela dose desconhecida
– em efeitos póstumos
me sentei ao lado da vitrola empoeirada
em uma cadeira desconfortável
– e conforme instruções
coloquei para tocar o primeiro disco
que encontrei pela frente: Mozart
ouvindo o requiem apropriado
fumei meu primeiro cigarro
oficialmente, morto
depois novamente estiquei as pernas
e fiquei revivendo este ser
esta maravilhosa concentração de energia
que me encheu de luz e calor tantos dias
até que o milagre se fez
eis que surge este ser peludo
branco e arrepiado feito um raio
correndo, miando, resfolegando
que faz brotar meu primeiro sorriso
que me faz sentir vivo novamente
por isso quando foi dormir me sentei
e escrevi meu primeiro poema post mortem
em homenagem ao gato que miou
pela última vez esta madrugada
em celestial desordem.