De repente

Você mata a vizinha
Após ler Noites Brancas
Ou apenas segue-a
Atrás dos postes
De repente
Você se equilibra sobre o cordão umbilical
Num malabarismo de façanhas
E mesmo com as pernas tenras
Fique firme
De repente
As flores e os amendoins vingam
E os pingos da chuva fria
Embelezam ainda mais suas folhas
Não é o cultivo, e sim a graça
Você se ajoelha para ver de mais perto
E mesmo com os pingos da chuva escorrendo na testa
Sua natureza não se compara a deles
De repente
É possível ouvir um gato todos os dias
Como se seus pelos fossem arrancados um por um
E os gritos são tão altos
Que levanta-se, vai até a janela
Nada vê, absorve aquilo, abre a geladeira indignado
Diz pra si mesmo: “Dois pés, um cu e ladeira abaixo”
De repente
Abra mais uma cerveja
Sinta um cheiro estranho no travesseiro
Percebe que foi roubado na farmácia
Orgulha-se por saber temperar tomate
Mais um furo no colchão!
De repente
Os livros fechados concordem
As pipetas façam algum sentido
Quatro paredes é pouco
Azeitonas recheadas?!
Pensa que crianças se dariam melhor na caverna de Platão
De repente
Dormir é o cheiro da morte!
Sexo é vida em quadrinhos!
Parar em ponto morto, bíblico!
Salvação!
Bactérias, fungos, sangue quente!
De repente
Somente de repente
Seja mais fácil ser passageiro
Sem lembranças
Sem rastros

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