Homicídio de 1999

Começo, verdadeiramente
A cravar a existência de um Criador
Através das mais simplórias constatações
Acredito quase 100%
Numa totalidade transparente e segura
Que de outra forma
Não haveria possibilidade de termos
Um inferno assim,
Tão perfeito
Com uma ressalva indispensável
Para tal afirmação:
Criou de luvas

Para F.F


Marchando sobre ferraduras
Ou apenas alegando insanidade poética
O crime demorou sete anos para ser finalizado
Notícia um tanto confusa
Que chegou de helicóptero
E pousou no cemitério dos campos vastos
Onde adultos brincavam de acordar fetos feitos de açúcar
Pneu estourado pelo tiro da espingarda de plástico
Metros abaixo de onde o fusca vermelho fora abandonado
Um senhor grisalho e de terno mostrou seu crachá, que dizia:
“Vim do futuro e não existo”

minha nada mole vida

hoje nem dormi
vinte horas
no máximo umas
dezesseis
acordei com fome
pra variar
e como sempre
o Traste
não deixou
meu prato feito
miei, miei, miei
e nada,
voltei a dormir
mais quatro horas
que me faltava
acordei e nada
miei, miei, miei
quase apanhei
mas comi de boas
e agora enquanto mio
só pra infernizar
os poemas do tal poeta
com cara de safado
vou deitar mais umas
horas, mas agora
desse lado

isto não é uma resenha

um dos diversos desenhos presentes na obra estrAbismo

…a poesia é inimiga da verdade. Ela não se preocupa com isso. Isso é coisa de filósofos. A poesia bêbada não tá nem aí pra esse tipo de elucubração.

Ela é insana intensa e avessa a cânones e escolásticas. Ela caminha de lado. Nunca entra. Sempre de fora.

A propósito de estrabismos, de Mrs Oculus.

Faz falta um poeta assim na cena literária brasileira. Que vem e detona tudo. A (im)pureza do verso. A (in)consequência do gesto. Que (ir)Rompe o silêncio no grito.


Clique aqui e continue lendo esta crônica poética que dialoga com o livro estrAbismo, por Eduardo Ferreira (Autor da novela “Eu nóia”, 2006).

Lhegista

No meio da vesícula tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio da vesícula
Tinha uma pedra
No meio da vesícula tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
No meio do caminho tinha uma perna
Tinha uma perna no meio do caminho
Tinha uma perna
No meio do caminho tinha uma perna
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
No meio do caminho tinha um i
Tinha um i no meio do caminho
Tinha um i
No meio do caminho tinha um i
Intestino
Infecção
iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
Agora, Ivo?
No meio do caminho até tinha uma pedra
Mas Sísifo resolveu construir barragens