Estiquei minhas pernas em um velho banco,
no terminal urbano.
Onde vidas se cruzam na velocidade com que
seus sonhos são construídos e desconstruídos.
Jovens andam rápido,
alguns com brilhos nos olhos,
e mochila nas costas.
Velhos andam devagar,
com semblante cansado,
e pouco orgulhosos por cumprirem mais um dia
de sua árdua rotina.
Entre embarques e desembarques
ouço conversas cruzadas que invadem meus ouvidos.
Prova de física amanhã, estou ferrado!
Minha aposentadoria está demorando em chegar!
Será que tenho tempo para um cigarro?
Não suporte mais essa rotina!
Mudo então o banco,
Dessa vez não estico as pernas.
Me sento apoiando os cotovelos nas coxas,
E as mãos sobre a testa,
sempre foi minha defesa natural contra contatos humanos.
Percebo então companhia.
Amigo, serei breve, preciso beber, pode me ajudar com alguns trocados?
De quanto você precisa?
O suficiente para esquecer realmente quem sou.
Não sei se tenho tudo isso no bolso,
que tal 8 reais?
Agradeço, e que Deus lhe dê em dobro!
Espere amigo, pode repetir?
Que Deus lhe dê em dobro!
Você pode pedir a ele que me dê em dobro
o suficiente para também esquecer quem realmente sou?
Olha amigo, acho que também precisa de uma bebida.
Acompanho então aquele homem,
com passos rápidos ele entra em um dos bares
do terminal urbano.
Bares que abrigam toda a beleza da existência humana,
todos quem sabe,
no final do dia bebendo para esquecerem quem são.
Tomo coragem e adentro ao mesmo bar.
Fala chefe, o que será para você hoje?
Uma água sem gás, pois sou medroso demais para
sentar-me com esses homens e discutir assuntos simples,
simplificar a complexidade da vida e quem sabe esquecer quem sou!
Perdão, não entendi.
Apenas uma água sem gás por favor.