Ao sair para andar

O fluxo sanguíneo irriga meus olhos,

pouco funcionais,

algo genético, hereditário.

Prefiro então esconder os óculos,

prefiro então nenhuma medicação.

Quero enxergar,

mas sem perfeições.

Quero viver

mas sem anestésicos.

Quero ver o mundo por mim mesmo,

mas por Deus,

a quanto tempo não faço isso?

Amigo, preciso de sua ajuda,

negocia alguém enrolado em trapos,

e com uma garrafa em mãos.

Mas como poderia lhe ajudar

sem nem a eu mesmo posso?

Não lhe enxergo,

nem ao menos sei se existe.

Alcance essa garrafa,

quem sabe pelo gosto amargo desse trago posso voltar a ser eu,

posso lhe ajudar

e quem sabe ajudar a eu mesmo.

Saio a passos rápidos,

talvez seja Deus enrolado em trapos,

me tentando, a ser eu novamente.

Meus batimentos disparam,

sento na calçada e espero baixar.

Não baixam,

realmente não preciso me preocupar,

esse sou eu.

Volto a andar,

passos lentos, pensamentos acelerados.

Paro em frente ao hospital,

se desmaiar alguém me verá.

Penso em entrar e pedir quanto custa um exame para identificar se venho sendo eu.

Assim pensarão que sou louco,

então me acalmarei, esse sou eu!

Agora começo a correr,

batimentos quase em 200,

tropeço em uma garrafa vazia,

melhor parar, quem sabe seja Deus tentando me avisar.

Chuto-a para longe,

sinto uma dor tremenda nos dedos dos pés,

até então amortecidos por pensamentos intrusivos.

Volto a passos lentos agora,

não me importa mais saber se sou eu ou não.

Faço o mesmo trajeto,

quero saber se ainda posso ajudar aquele velho amigo.

Ainda esta ali, agora a cochilar,

enrolado em trapos,

como meus pensamentos.

Penso em lhe abraçar,

mas desde quando meu abraço

poderia alguém ajudar?

Sigo meus passos,

desculpe amigo,

não posso ajudar,

pois apenas sai para andar.

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