Poemarcenaria

Quando as veias apertam
O martelo bate o sino
E o sol nasce
Gracioso
Como borboletas no sal grosso
Quando as veias rasgam
O escárnio é doce
Como um favo leproso
E o sol se põe
Entre mercadorias baratas
Sócrates suicidou-se por acreditar na justiça
Jesus pensou tanto crucificado
Que coagulou sangue na boca
Vestígios nos sons do telhado
Morte lenta a criar raízes
Nas marmitas do absurdo
Teatro de uma cena congelada
Piada contada em bocejos
A lua nasce dentro de um chupão
Navega nas cerâmicas do peixe
E ri nos relâmpagos de um vulcão
A pena
Há pena
Apenas
Casacos cheios de furos dos cigarros
Consórcios
Com sócios
Labaredas do suicídio coletivo
O papagaio grita:
“Existe vida na gaiola, existe vida na gaiola, existe vida na gaiola”
Novamente o despertador é programado
E se acorda um minuto antes
Do poema

Um crucifixo no lugar dos ponteiros do relógio é capaz de dar doze horas diferentes

Assim como a sombra ofusca um homem
A noite, insegura, desnuda o dia       
Ecos da geladeira, olhar periférico do matador de baleias
Atirador de facas abduzido por uma tribo indígena
A piedade é carne de lobo
As unhas do quati rasgam o cão em três pedaços
– Ramon, por que não joga mais cacheta?
– Porque só perco dinheiro
– Lembrei ontem à noite da piada que fez com o pino de boliche
– Qual?
– Que ele é tão baixo que só consegue colher abacate de helicóptero
Acabei aqui, com uma lanterna na mochila
E por diabos, o melhor poema que ouvi hoje não existe
Sobre um cara que conserta canos e cheira merda quinze horas por dia
Continuam sussurrando palavras de amor na minha parede
Os cantores deram uma trégua
Agora discutem contraindicações de inseticidas
Enquanto uma barata corre até mim como se fosse à mensageira
Continuam sussurrando palavras de amor na minha parede
Ganhei a lanterna e a mochila
Roubei uma carta do baralho
Um Ás de copas
Pelo dinheiro perdido
Estou de folga amanhã
O poeta que declamou o poema do encanador que não existe
Usava óculos e tinha uma gargalhada peculiar
Daquelas que é difícil existir
Vou pedir inseticida emprestado
Vou iluminar com lanterna todos bichos antes de matar
A noite, insegura, desnuda o dia
Depois guardarei na mochila
O melhor poema que ouvi hoje termina assim:
“Flertei com dez mulheres
E todas disseram:
Sim, sim, mamãe quer seu filho menos triste amanhã”
– Ramon, o pino pediu transferência de posto
– Vai pra onde?
– Trabalhar de segurança na creche
– Sim, sim
– Ramon, é bem difícil a tainha vir pelo sul
– Sim, sim
Nem um mísero par na cacheta
Ás, 3, 6, puto, puto, dama, 9, 3 dobrado, 6 dobrado
Assim como a sombra ofusca um homem
Continuam sussurrando palavras de amor na minha parede
E eu não consigo decifrar
De qual lado chegam essas vozes
Estou de folga amanhã
Atirarei facas em um índio
Caso não me ensine
Abduzir baleias

Complexo de empatia

Uma repórter foi fazer uma entrevista no hospício, e encontrando um paciente conversando com uma árvore no meio do pátio, para e pergunta ao louco:

– Sinceramente, pensa comigo agora, você não acha maluquice um ser humano conversar com uma árvore?

E o paciente responde:

– Maluquice seria se ela não estivesse respondendo.

Depois, em uma sala fechada pede para outros seis pacientes escreverem qualquer coisa numa folha de papel em branco:

Lucidez
Nove meses abra os olhos
Independente do que ver e verá
Os sorrisos não são falsos ali
Não é tempo de se preocupar
Que coisa linda é o que dizem de ti
A bondade estampada em si
Um fantoche bem cuidado
Em anos vira zumbi

Obedecer, se defender, criar seus próprios momentos de lucidez

Geralmente é algo passageiro
Tornando visões reais
Ao seu jeito e ao seu modo de ver
Você ainda é capaz de

Obedecer, se defender, criar seus próprios momentos de lucidez

Histórias Contadas
As luzes se apagaram na escuridão
Escondeu nosso tesouro na imensidão
Distante uma milha da visão
Bem perto da nossa imaginação

Histórias contadas

Não me diga porque eu não quero ouvir
Que tudo tem um fim
Que armaram isso pra mim
Tenho meus medos
Sei resolvê-los, prefiro assim ficar calado, ouvindo besteiras
Nem um pouco preocupado
Porque se eu paro pra pensar, sem querer falar
Meu tempo é que é desperdiçado

Histórias contadas

No silêncio da decisão
Eu lamento minha cabeça, e o que ela vê e o que ela pensa, na maioria é superficial
Vejo pessoas diferentes, com um olhar indiferente para um mundo ideal
Não preciso ser um herói pra resolver a situação
Para que continuar fingindo, só aumenta a confusão
Uma tortura inevitável  e um sentimento que foi guardado no silêncio da decisão
Uma loucura interminável, uma batalha com a realidade que não tem um vencedor
Um ser humano só fica louco quando perde a razão
A liberdade esfria a mente e espera reação
Minha ideia segue em frente, será que devo estar contente é tão difícil de conter
A rotina me consome, um sinal que me interrompe, é muito cedo pra parar
Um ser humano só fica louco quando perde a razão
A liberdade esfria a mente e espera reação

Cometer os mesmos erros
Atitude, ousadia, primeiro mundo me desafia
Somos incapazes de encarar a realidade, cada um vive sua história
Cada um vive na sua cidade
É hora de amar, é hora de gozar, pois a vida é uma só
Medo de poder, medo de querer, medo de curtir
Medo de viver, medo de morrer, medo de agir
Não faça o que te disse, curto suas maluquices
Pois ninguém é obrigado a concordar com tudo
Falar besteiras, fazer asneiras, criar intrigas
Cometer os mesmos erros

O idiota renasceu
Hoje eu vou parar, preparado pra nascer
O idiota renasceu
Sempre tão vulgar, e insano, o idiota aqui sou eu
Rindo das mesmas piadas que um dia eu quero ouvir
Me sentindo importante quando eu sou o imbecil
É fácil, é simples, difícil de manter
Eu sou mais um comum
Rindo das mesmas piadas que um dia eu quero ouvir
Me sentindo importante quando eu sou o imbecil

Agora eu sei
Viajando num sonho eu vejo você
Mas quando estou por perto não consigo entender
Você e os seus problemas e o mundo em vão
Mentiras, bobagens, destruição
Agora eu sei, você que quis assim
Agora eu sei, o mundo não é tão ruim
A vitória é que faz um campeão
Viver de mentiras é pura ilusão
Você e seus costumes de fugir de mim
Não da nada, eu prefiro assim
Agora eu sei, porque tudo parece normal
Agora eu sei, faz tudo ficar igual
Brigas e gritos não adiantam não
A corrida está acabando e todos querem ser o campeão
Um segundo perdido já é motivo pra chorar
E quando o certo já não é mais certo, é porque o fim está pra chegar
Talvez para mim, talvez pra você
Não é fácil assim, mas da pra entender
Negação é tão grande, faz você se assustar
E o perigo que se expande, já é motivo pra se arriscar

estrAbismo na 12ª Feira Catarinense do Livro

12ª Feira Catarinense do Livro

Tenho o prazer de informar que conseguirei reunir esse triunvirato pela primeira vez na 12ª Feira Catarinense do Livro. Com entrada franca, a feira ocorre de segunda a sábado, das 08h30 às 20:30, de 3 a 13 de julho. Este ano a feira será realizada em novo espaço: no calçadão da Avenida Paulo Fontes, em frente ao TICEN, no Centro de Florianópolis.

Consegui contato com Eduard Traste depois de dias buscando seu paradeiro na Bolívia, onde segue com sua turnê divulgando seu primeiro álbum “La cuca racha recheada”, projeto solo de música experimental, em que canta suas composições com fundo eletrônico de ratoeiras capturando ratos e sons de cocos caindo na água.

Ramon Carlos aceitou meu convite da Itália, mais precisamente na Sicília, cidade na qual busca informações sobre seu bisavô paterno, um forasteiro acusado de contrabandear vinhos na Segunda Guerra Mundial. Sem entrar em detalhes, garantiu-me estar sendo seguido pela máfia, e escreveu um poema “Que artista falece comigo”, uma homenagem ao Império Romano, que pretende apresentar na feira.

Lembrando que a feira contará com estandes para escritores, várias livrarias, editoras e distribuidoras de livros, além de um palco para apresentações artísticas e culturais.

Por fim, quem quiser trocar uma ideia com a gente, aproveitar para comprar o livro com um bom desconto, estaremos, conforme programação, expondo o livro estrAbismo na terça-feira, dia 9, entre 17:30 e 19:30.

um caminhão de lamentações

o caminhão tava com tudo que nóis queria mas ele não chega até aqui
o caminhão tava com tudo que nóis queria mas ele não chega até
o caminhão tava com tudo que nóis queria mas ele não chega
o caminhão tava com tudo que nóis queria mas ele não
o caminhão tava com tudo que nóis queria mas ele
o caminhão tava com tudo que nóis queria mas
o caminhão tava com tudo que nóis queria
o caminhão tava com tudo que nóis
o caminhão tava com tudo que
o caminhão tava com tudo
o caminhão tava com
o caminhão tava
o caminhão
o
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