o que você faz
com aquele tatu
fora de hora?
e se for seco
e não grudar?
e se for pegajoso
e não soltar?
e se você se apegar
e não quiser largar?
e se você bobear
e ele escapar?
e se der fome
você come?
o que você faz?
com aquele tatu..
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miau miau miau
o biscoito que você me deu
tinha gosto de Rum – eu adorei
e feito um gato bem
alimentado me aconcheguei
entre suas coxas macias e quentes
e ali fiz meu ninho
entre sua buceta
e seu cuzinho.
que delícia de dona
você é.
miau, miau, miau
miau
Mostarda
Você, donzela do fogo
Deixe-me em paz
Homens na contramão não são ultrapassados nem seguidos
Enquanto procura danos menores
Busco goles e ecos
Sua pele macia tem borboletas e frases
Minha pele velha tem manchas e só
Entendo que sua carne precisa tremer
Mas sou operado cada vez que entorpeço
Em ninhos remotos
Deixe-me donzela do fogo
Recolha sua calcinha vermelha dada
Vista-a
Seque os mamilos
Peça-me para não olhar
Desligue a luz
Deite-se ao meu lado e regurgite aquele mantra
Esconda-se e implore
Mais e mais
Do que já tem
Não é suficiente
Sabemos
Por pior que seja
Enfim,
Estamos corretos
E com frio
PE: Revista Subversa | vol. 8 | núm. 6
PE: 8ª Edição da Revista LiteraLivre
no vagão da meia-noite
você continua
bebendo e fumando
um atrás do outro
feito um guaxinim
neurótico
chutando rabos
você acende um
no rabo do outro
e você pensa
e pensa
e pensa
enquanto os olhos
saltando para fora
buscam o suicídio
buscam a salvação
quando toda mentira é verdade
quando as cartas estão marcadas
mas ganhar não te interessa
você pensa
e fuma mais uma carteira
e o estrAbismo só aumenta
então se pega lembrando
daqueles que desistiram
no caminho
daqueles que resistiram
até o fim
e por um momento
você percebe que desistir
não é uma opção
ao menos não agora
enquanto a cerveja desce
gelada, a fumaça sobe
e o vagão
continua..
Altar
“Eu sou o falso poeta que tanto os verdadeiros poetas alertaram para evitar”
Dizendo isso, logo emborcou um copo de cerveja e concluiu:
“Ramon, não adianta, quando a vaca tosse, eles já têm o lenço”
Tentei animá-lo, mas torceu o pescoço e se foi
Lembro dele depois desses anos, ao tentar escrever
Algumas páginas para os Perkins, Martins,
Polidores de Carver, amaciantes de bruxos, assassinos de Toole
Ele, hoje é gerente de hotel
Tem uma filha morando na Europa
Um filho fazendo medicina na federal
E eu sou o falso poeta que tanto os verdadeiros poetas alertaram para evitar
Mais recusado que aceito na maioria das revistas
Contando com o ovo no cu da galinha morta
Por uma seita de amarração para o amor
Ligou pedindo para levar meu currículo até o hotel
“Ramon, não morra sem conseguir comprar um carro”
Torci o pescoço e desliguei
Depois de alguns litros liguei para o hotel
“Quero falar com o gerente”
Passou uns segundos até ouvir o tom camuflado da sua voz
“Posso lhe fazer uma pergunta?”
“Claro” ele disse
“Se lhe dessem como último pedido na vida escolher uma música para ouvir, pediria a mais longa ou a que mais gosta?”
“Ein?”
Desliguei de novo
“estrAbismo” não é apenas uma compilação de escritos dos autores Eduard Traste e Ramon Carlos, é um conceito. Como o nome sugere, são visões distorcidas, olhares próprios, impróprios e às vezes gritos do Abismo. Através de poemas viscerais, caóticos, cômicos, pornográficos, estrábicos, como quer que seja, os autores, já publicados em revistas como: Alagunas, Literalivre, Subversa, Inutensílio, Philos e Escambau, discorrem sobre qualquer coisa, desde que o resultado sintonize na frequência pulsante de versos vivos. MR. OCULUS paira com sua elegância sobre a deselegância, com sua justiça sobre a injustiça, com seu tato nas mesquinharias espalhafatosas que corroem a nobreza de um louco
O mundo como livro e cada pessoa uma página. Algumas são difíceis entendermos, outras pulamos, e por fim há as que queremos ler e ler e ler por muito tempo. Páginas rasgadas e caídas, esquecidas, ficam por um tempo sem serem notadas, incompletam o livro, incompletam um parágrafo seguinte, mas elas estão por aí, fazendo suas próprias histórias de uma página só. Eu caberia em uma frase mal escrita por mim, sem pontuação, apenas palavras corridas, imergindo, como um cinzeiro repleto de desculpas, como as fotos do dia anterior, como uma linha delirante e tênue, cicatrizado, paralelamente à minha leitura do livro, do mundo, de você. Letras queimadas, aqui vamos nós, para essa doença sem fins lucrativos.
PE: Zoometarquia por Marcos Antônio
PE: Revista Subversa | vol. 8 | núm. 5
precisava parar
ele criava como GODzilla destruía
abria o editor de textos e não parava
cada página um poema
cada poema
uma nova droga no mundo
estava viciado
e tinha seu próprio laboratório
tudo
mas tudo
virava poema
precisava parar
parou?
sim
veio o natal, veio o final
veio o pão e o vinho
veio a ressurreição em desalinho
bucetas, cus, paus
todos enrijecidos pela doença
vieram os pássaros
apenas canários
ordinários da vida
perdidos no eco de seus cantos
loucos de surtar o estavam
enlouquecendo
precisava parar
parou?
sim
veio a velhice
e o cheiro de morte
que se misturou com seu cheiro
cheiro de cigarro, álcool, penas
bucetas, cus, sovacos e solavancos
doença, sangue, pus
de humano demasiado
a canário ordinário
não tinha jeito
precisava parar
parou?
não.
