Primos, primas
Rios turvos
Migalhas de ouro
Cadáveres de pão
O Sol lamenta o que é de carne
Seus lindos sorrisos são sempre mais frágeis após a lágrima
Como se estivessem guardando chuva em marmita
Para o próximo jejum
E a fome não alcança o sacrifício
Então penduram cabides em cabides
Deixando a porta do guarda-roupa sempre aberta
Para a vela não apagar-se
E os vermes acharem a comida
Mamões de areia
Salpico com orégano
Manchas roxas em um riso de cobra
Impressões digitais desaparecem no hematoma
Crivado na lápide indigente
Indigesta
E até parece um caso sério
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PE: 4ª Edição da Revista LiteraLivre
pergunta quente
“então é assim
que começa o começo
do fim?” – me pergunta
o cigarro já em meus lábios
embora que ainda
apagado.
como responder
tal pergunta? não sei!
inicialmente brocho
e o cigarro pende
para baixo – obviamente
mas em seguida
minha mente ausente
se faz presente
tentando não soar doente
frente ao indagador
cigarro quente..
em vão, eu até tento mas
mais uma vez me calo
e o calo, fumando
-lhe até
o talo.
Rascunho
Desabotoando os ossos
Da esfinge galgada
Esse trem que não vai por onde veio
A estipe desmancha o caramelo do nevoeiro
Habita-me
Prosaico e imune
Como as raízes num chão de lama
Habita-me selva em doses
Semeia a eloquência dos meus porres
Disparo galante
Entre o troco e a sobra
Entre o porco e a cobra
Abro a janela pra respirar
Alguém reclama do barulho
Corro para o banheiro
Seco o guarda-chuva
Visto-me entrelinhas
Releio a carta
Recorto-a em curvas
Bem sabe ela
Que nunca responderei
atenção às perguntas
– o que você faz? você
não trabalha? não estuda?
não toma banho? não se
barbeia? não escova os dentes
todo santo dia?
e peida sempre alto? e
arrota na mesa? e não vai
à igreja? e não acredita em Deus?
e bebe todo dia? e começa sempre
de manhã? e só termina
quando acaba
contigo? – ela não se calava
depois de ver de perto
minhas cuecas
sujas..
“baby,
sou no máximo
um mínimo
poeta, e olhe
lá..”
e quando ela olhou
eu me fui, ainda em tempo
desta vez..
21:00
Estou falando abertamente aos consolos do meu ego
Enlouqueci mais uma vez
Nas nuvens escuras de um bom temporal
Um baratão chupando o traseiro do dragão
O dragão coitado, dissolve bem mais rápido
Primeiro perde a cabeça, que solta parece um palmito
O baratão cresce na medida
Entrando de cabeça e tudo no dragão decepado
São formas apenas, afirmo com a cabeça
Meu estilingue com a forquilha de plástico
O porco que enterrei vivo
Balbúrdias de um rato pródigo ecoando na virgindade do esmo
Ligado a autodestruição
Como bananas siamesas sob a luz de um poste sem lâmpada
Fome de vida
Assim vai o carnívoro comendo grama sintética
E lá em cima e lá embaixo
Formas
Ao luar de uma noite sem estrelas
o que sei
o que posso dizer que sei
quando o mundo persiste correndo
lá fora, mais rápido e para mais longe
de mim? pra onde vamos,
enfim?
não posso dizer que sim
não ouso dizer que sei
coisa alguma, até porque já não faço
questão alguma de saber: amém!
coisa nenhuma –
eu sei.
Tontos
O que é a vida?
A vida é um penico que aos poucos vai se enchendo de merda, e a morte nada mais é que uma empregada desinfetando inúmeros penicos por dia
Não perguntei sobre a morte
Não consigo relacionar vida com outra coisa. Consegue?
Consigo esquecer que uma existe
E sempre esquece a mais fácil de lembrar?
Esqueço a que menos me faz falta
Como pode saber disso se só tem uma por enquanto?
O que é a vida?
A vida é um penico cheio de flores, e a morte uma empregada que retira um punhado delas todos os dias, quando seca o penico, ela lava com esponja e expurga o cheiro doce
Meigo
Bicha
Poético
Poesia é rimar um nome russo com abacate
Fácil
Poesia é um palíndromo árabe
Fácil
Poesia é cagar num penico de pau duro
Com flores é poético, sem flores é fácil
Misturar flores com merda não é poético, é cagar no cemitério
Mas meu denominador comum é o pau duro, não a mistura
Cagar de pau duro em um cemitério é poesia, de pau mole não
De pau duro é poesia, de pau mole é fácil
Voltamos pro penico bicha
Poético
Qual a próxima pergunta?
O que é a vida?
A vida é um penico furado cheio de flores e merda, a morte uma empregada que finalmente ergue o dito e deixa que os outros interpretem a sujeira
Absorvendo
Esponjas, sempre com um lado sujo pra absorver
E limpar
O que é a vida pra você?
Um pepino
No penico ou no cemitério?
Em qualquer lugar
Como assim?
A vida é um pepino, fácil de descascar e bom de comer
Desconhece meu pepino
Desconhece o meu
O que é a morte pra você?
O que é a vida pra você?
O fim
O fim
Tarkovski
no sonho de sempre
ninguém acreditou quando confessei
que meu diretor favorito
era russo.. e no fim o filme acabou
e não pude explicar
o porquê?
acordei.
Lúgubre ensaio
Tenho tentado por muito tempo
Empacotar espasmos ao lado da anemia mediterrânea
Hemoglobina, glóbulos, pulso, fraqueza
Algo dentro das veias que pudesse jorrar oxigênio
Orgasmos brancos e vermelhos
Que um pequeno corte na sobrancelha
Fizesse-me cantar o hino nacional
Explodir espinhas, com pedaços de júbilo e pus fertilizando a pele
Pus!
Pulsando em minhas veias
Estou pronto para doar
Cortem-me
Enfiem a agulha com orgulho
Se preferirem gasolina
Só semana que vem
Por enquanto sou leviano
Tão despreocupado
Quanto os bagos do Papa
Eu batizei minha doença
“Complexo de empatia”
Geneticamente incompatível com os genes
Por isso fiquem relaxados
Ocupo seus lugares
Sem saberem facilito suas vidas
Miseráveis que só andam de frente
Andar de costas não quer dizer voltar
Pus
Eu pus
Amarelado
Temperei e fiz gargarejo
Para que possam dormir tranquilos
E desperdiçar mais um dia
Meu
Está pronto o caldo!
Raízes, raízes, diretrizes, atrizes, permissão
Tradições, traições, resgate num avião de papel
Tenho tentado um começo histórico
Daqueles que o fim seja um mero, sagrado e insolúvel erro
Trago comigo a indecência do pecado puro
Mentiram pra mim também
O diabo não é cego, anjos cobram insalubridade
Deus é um gordo bêbado
Velho testamento…Cervantes escreveria melhor
I.N.R.I?!
Insaciável Necrófilo Rindo dos Imortais
Ha-há-há
Minha fé é um jogo de azar
Tenho tentado perdê-la
Tenho tentado perder tanta coisa
Que ganhar é um suspiro de humanidade
Do qual estou acostumado
Música, arte, caprichos, fantasmas, sal, isopor
Gente com pena
Gatos negros reagindo ao colorido dos olhos
As fezes brancas
1,2,3….
Corta!
Esse lúgubre ensaio
Proporcionará uma peça
Os aplausos ou vaias
Que fiquem com vocês
Enquanto me abstenho disso no próximo gole
